24.11.08

“A luta contra a pobreza tem de ser já”

in Diário de Coimbra

Há pobreza, fome e situações de carência envergonhada em Coimbra, diz o coordenador do núcleo distrital de Coimbra da Rede Europeia Anti-Pobreza, Manuel Machado. No programa “Dois dedos de conversa”, que vai para o ar hoje, entre as 12h00 e as 13h00, na Rádio Regional do Centro, o responsável admitiu que «a nossa cidade é especial» mas tem, a este nível, «as mesmas características do todo da sociedade portuguesa».
«Apesar de haver aqui um nível mais elevado em termos de educação, há também um nível complexo em termos de carências materiais e de fome, infelizmente», sustentou o ex-presidente da Câmara Municipal de Coimbra, notando que «não raro, as pessoas em dificuldade conseguem, por vergonha, encobrir do resto da sociedade a sua situação de carência».

«Quem trabalha em sectores como a saúde ou a acção social detecta situações extremamente complexas e diversas. É pobre uma mulher que trazida de outro país é forçada à prostituição. É pobreza ao nível da indignidade humana», comentou Manuel Machado. Depois, acrescentou, também existe a fome. «O conceito de pobreza é complexo, mas o fulcral é que se as pessoas não têm o essencial para sobreviver com dignidade, estão em risco de pobreza».

Dados de Agosto da Rede Europeia Anti-Pobreza revelam, no distrito de Coimbra, «situações graves que tendem a evoluir ainda mais desfavoravelmente e, sobretudo, alertam para um índice de pobreza infantil», revelou o responsável, alertando para um futuro próximo. «Esta é a realidade que temos de enfrentar, e a tempo». Recorrendo às expressões popularizadas na altura do PREC, em que a tudo se acrescentava «já», Manuel Machado frisou que «no caso da luta contra a pobreza, tem de ser mesmo já. O que se faz ao longo do tempo é importante, mas há coisas que têm de ser feitas já».

Unir esforços
Sobre o trabalho voluntário da Rede Anti-Pobreza, o ex-autarca notou que a instituição pretende conjugar esforços e desenvolver iniciativas de forma a aumentar a capacidade de intervenção de todos os envolvidos nesta luta. «A Rede não tem dinheiro, mas pode obter dos seus associados exemplos de iniciativas, propostas, e colocá-las em Bruxelas ou perante o Governo português, desafiando a sua concretização», explicou.

Manuel Machado congratulou-se com a existência de um cada vez maior número de associações e grupos de cidadãos que, através do voluntariado, contribuem para minorar as dificuldades dos seus semelhantes. «Um trabalho de generosidade, mas que se quer desencadeado com eficácia e, sobretudo, com intervenção política, no sentido amplo da palavra, para que cada vez mais as nossas instituições públicas e privadas possam enfrentar esta cruzada contra a pobreza e exclusão social», declarou.

Segundo o coordenador do Núcleo Distrital, «os indicadores são preocupantes face à realidade económica que se vive actualmente e é mesmo provável que se venham a agravar».