A.P.L., in Jornal de Notícias
Daniel Bessa, Economista e ex-ministro da Economia
Esta crise bem diferente das várias crises que indústria têxtil e vestuário enfrentou até hoje vai implicar mais fechos de empresas?
Eu diria que mais importante que os problemas da crise continuam a ser as questões estruturantes. Eu acho que a crise vai afectar sobretudo aquelas empresas que se especializaram nas pequenas séries de reposição de produtos.
Porque os compradores vinham cá quando precisavam de repor um artigo e agora basta vender um bocadinho menos e já não vêm. Uma pequena quebra na venda do produto final pode fazer um estrago muito grande nas empresas que vivem da reposição de stocks. Aí acho que pode vir a haver um problema sério.
Mas a resposta rápida e para reposições era, até agora, um dos caminhos de futuro apontados para o sector.
Pois, mas numa fase como esta é um bocadinho complicado.
Acredita que o desemprego no sector se vai agravar?
Acho que o sector do ponto de vista estrutural vai continuar a perder emprego. Vai aumentar a produção e exportações, mas em termos de emprego vai baixar.
Marca, inovação e especialização são algumas das premissas que o sector deve seguir. Esse trabalho está a ser feito?
O que nós temos dito é que as apostas mais promissoras são as da marca. Mas temos de ter cuidado, porque essa estratégia exige muito dinheiro e muito risco. Eu estou de acordo com o que aqui foi dito de que o sector tem de ter uma ou outra empresa portuguesa que conseguisse crescer em facturação e alavancar o resto do sector.
Na região Norte as dificuldades que o sector enfrenta vão agravar os níveis de pobreza?
O contexto é o pior possível. O Norte tem vários problemas e nos dois anos que estão pela frente a situação é muito difícil. Não acho que possa melhorar.