26.11.08

Economia recua 0,2% em 2009 e consumidores cortam gastos

Rudolfo Rebêlo, in Diário de Notícias

Previsões. Consumo, investimento e exportações em queda, diz OCDE

Inflação desce para 1,4%, há ganhos salariais, mas economia não recupera


Portugal entra já em recessão no último trimestre deste ano e em 2009 o produto interno bruto deverá recuar 0,2% em relação a este ano, de acordo com dados ontem divulgados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE). É a previsão mais pessimista depois do FMI e a Comissão Europeia terem previsto uma estagnação para o próximo ano. Em dois anos, até 2010) Portugal acumula mais 70 mil desempregados, e em 2009 as famílias vão consumir menos 0,2% face a este ano e o investimento regista uma contracção de 1,2%.

Os aumentos salariais no sector privado podem chegar aos 2%, com a inflação a aumentar 1,4% (deflactor do consumo). Uma forte desaceleração nos preços - explicado pela queda dos preços internacionais da fileira energética e das matérias-primas - que, frente a aumentos salariais de 2,9%, vai compensar os funcionários públicos por perdas nos últimos anos.

No próximo ano, poderá existir mais dinheiro nos bolsos dos portugueses no fim do mês, mas a verdade é que a OCDE afirma que os consumidores vão cortar nos gastos. É o preço a pagar pela destruição de emprego (-0,5%), um aumento do desemprego e desconfiança em relação ao futuro, o que leva à contenção de despesas.

O Governo, diz a organização com sede em Paris, vai alargar os cordões à bolsa ao gastar (consumo público) mais 0,2%, contrariando a tendência dos últimos três anos. Em conjunto com mais despesas sociais - para enfrentar a factura do desemprego - e um aumento do investimento público, as despesas em consumo podem pressionar o défice orçamental. Para 2009, o Governo estima que as despesas sejam 2,2% do PIB superiores às receitas, mas a OCDE contrapõe com um défice de 2,9% e 3,1% em 2010. Apesar das exportações recuaram em 2009, face a 2008, é , ainda assim, o comércio externo que evita maior hemorragia na economia. É que as importações, com a anemia no consumo e no investimento, registam uma queda mais pronunciada em relação às vendas ao estrangeiro. Portugal "figura no lote de países com previsões menos negativas", afirmou o primeiro-ministro José Sócrates.