Céu Neves, in Diário de Notícias
Comportamentos. Portugal é o país europeu onde os jovens começam a trabalhar mais cedo, mas não é o salário que os faz tornarem-se independentes. Aliás, a maioria acha que 31 anos é o limite para deixar a casa dos pais e 40% consideram, até, que não há uma idade máxima para o fazer. E quando saem é para casar
Estudo europeu aproxima Portugal do Leste da Europa
Os portugueses são os europeus que começam a trabalhar mais cedo, aos 17,7 anos. Mas não é o facto de terem um salário que os faz deixar a casa dos pais. Em média, tornam-se independentes aos 21,6 anos e, ao contrário dos nórdicos, por exemplo, deixam uma família para entrar noutra: a sua (casamento). É uma das conclusões do European Social Survey, que será hoje apresentado no Instituto de Ciências Sociais (ICS), em Lisboa.
Aquela realidade aproxima Portugal da Europa de Leste, "em que as transições se fazem mais tarde e ligadas à constituição de uma nova família", salienta o sociólogo Vítor Sérgio Ferreira, um dos participantes no estudo europeu. E, desta conclusão, retira uma outra: "Existem disparidades entre Portugal e Espanha e, muitas vezes, o País aparece muito mais próximo dos países ex-comunistas." A análise da sociedade portuguesa resulta de um consórcio entre o ICS e o Instituto Superior das Ciências do Trabalho e Empresas (ISCTE).
Portugal é o país onde há um maior intervalo entre a entrada no mercado de trabalho e a transição residencial, logo seguido da Alemanha. No lado oposto, estão a Bulgária e o Chipre, onde se entra tarde no mundo laboral, mas cedo na procura de habitação. Já na Noruega, Dinamarca e Suécia, as duas coisas ocorrem praticamente ao mesmo tempo. A estes países juntam-se a Finlândia, a Suíça, Espanha e Holanda e temos o grupo dos que dão prioridade à saída de casa dos pais. Portugal, pelo contrário, atribui um maior grau de importância aos filhos.
Outro dado interessante é que os inquiridos em Portugal consideram que 31 é a idade limite para deixar os pais (a média europeia é 28), mas 40% não colocam máximos, mais do dobro do que na generalidade dos 23 países estudados. Um resultado que reforça "o familialismo que ainda marca as relações entre pais e filhos", diz Sofia Aboim.
A socióloga procurou conhecer as diferenças na forma como as populações idealizam o futuro - idades máximas ou mínimas para casar, ter filhos, sair de casa dos pais, ter relações sexuais, trabalhar e reformar-se -, encontrando padrões semelhantes. Os europeus consideram haver idades mínimas para ter relações sexuais (16), viver com um parceiro (18) e ter filhos (20). E, quanto à idade de reforma, a maioria refere os 58 anos.
Jorge Vala, coordenador do estudo, salienta que, apesar das alterações sociais, "verifica-se alguma estabilidade nas normas sociais". E uma delas é precisamente a idade de reforma, bem inferior à realidade. "Devem ser feitos esclarecimentos no sentido de as pessoas compreenderem que aos 60 anos dispõem de um conjunto de competências cognitivas e sociais que lhes permite continuar na vida activa", salienta.