in Jornal Público
O Ministério das Finanças manteve ontem inalterada, contra a vontade dos sindicatos, a sua proposta de aumento salarial de 2,9 por cento para os funcionários públicos. Este valor fica ligeiramente acima da inflação de 2,5 por cento prevista pelo Governo para o próximo ano, mas ultrapassa largamente a estimativa ontem feita pela OCDE, que aponta para uma variação de preços em Portugal em 2009 de apenas 1,3 por cento.
Sem surpresas, Governo e sindicatos da função pública saíram da sua última reunião de negociação salarial sem qualquer acordo. A única novidade ontem foi mesmo a perspectiva cada vez mais acentuada de um abrandamento dos preços durante o próximo ano, desta vez dada pela OCDE através das suas previsões.
A organização sedeada em Paris diz que "os preços mais baixos da energia e dos alimentos, o crescimento fraco da economia e a elevada taxa de desemprego deverão manter os aumentos no sector privado a um nível moderado, ajudando a reduzir a inflação para um nível próximo da média da zona euro". A OCDE prevê que a inflação na zona euro seja de 1,4 por cento em 2009, enquanto para Portugal aponta 1,3 por cento.
A confirmar-se um cenário deste tipo, os funcionários públicos conseguiriam, por uma margem confortável, aumentos de tabela superiores à inflação durante o próximo ano, algo que nunca aconteceu durante os últimos sete anos. Nesse período, a perda de poder de compra foi significativa para os trabalhadores da função pública.
É por isso que os seus representantes sindicais mostram uma grande desconfiança quanto ao efeito final dos aumentos de 2,9 por cento apresentados pelo Governo. À saída da reunião de ontem, a coordenadora da Frente Comum, Ana Avoila, disse aos jornalistas que não foi aceite a sua proposta de rectificar os aumentos salariais de 2,9 por cento do Governo caso a inflação seja superior aos 2,5 por cento previstos para 2009, concluindo que "os trabalhadores vão ficar mais um ano penalizados".
O secretário coordenador da Frente Sindical da Administração Pública (Fesap), Nobre dos Santos, diz que a proposta do Governo não compensa a perda do poder de compra dos últimos anos e defende que o Executivo "está a prejudicar os trabalhadores, nomeadamente os pensionistas e os que estão em situação difícil". A realização de uma manifestação de protesto foi defendida por todos os sindicatos.