Céu Neves, in Diário de Notícias
Dia Internacional. Sensibilização para a eliminação da violência doméstica
UMAR distribui 'kit' e pede aos homens para assinarem petição 'online'
"Devia dar ali aos meus colegas." "Não tive problemas, mas acho muito bem." "Preciso do vosso apoio, qual é o número de telefone?" "Estas iniciativas são boas, é um problema que atinge todos". "Acho importante, mas não posso pôr isto no trabalho". São as reacções de quem ontem passava no Chiado, em Lisboa, e recebia um kit contra a violência doméstica. E foram mais as mulheres que os homens a recusar recebê-lo.
O kit é uma iniciativa da União de Mulheres Alternativa e Resposta para (UMAR) assinalar o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres. Inclui um poster (para pôr no trabalho ou na escola, aconselham), a braçadeira da marcha mundial das mulheres pelas vítimas assassinadas (43 este ano em Portugal), um autocolante com o laço branco "stop à violência doméstica".
"Pretendemos que as pessoas sejam solidárias e pedimos-lhes que coloquem o cartaz no sítio onde trabalham ou estudam para que se comprometam com a nossa acção", explica Manuela Tavares, da UMAR. O cartaz diz "Grita, grita bem alto!".
Aos homens, a organização pede especificamente para assinarem a petição "Eu não sou cúmplice", que já tem mais de 500 assinaturas.
Paulo Lagarto e Nuno Prates, ambos de 41 anos e a trabalhar no aeroporto, prometem assinar. E justificam: "A violência não é só bater na pessoa. É, também, repressão, poder, é não deixar que a outra pessoa se desenvolva, que tenha liberdade".
E Luís Silva, 49 anos, electricista assegura que, se tivesse conhecimento de algum caso, chamaria a atenção do agressor e, se este não parasse, denunciava-o à polícia.
Ana Aguiar, 18 anos, e Carolina, 19, reconhecem ser difícil actuar. "Sabia de um caso na minha vila (Monte Real, Leiria), mas não era a única a saber, outras pessoas mais próximas podiam denunciar", diz Carolina.
"Uma senhora que quase se desfez em lágrimas aproveitou para desabafar e pedir o contacto", conta Albertina Pena, da UMAR.
Uma jovem universitária, que não se quis identificar, diz já ter sido vítima de violência e que ninguém reagiu, nem os amigos. Simplesmente porque não acreditavam que o ex-namorado chegasse a vias de facto.