17.11.08

Crise leva munícipes a pedir ajuda às câmaras

in Diário de Notícias

Poder local. Autarcas admitem número crescente de casos dramáticos

Emprego, casa e ajuda no pagamento de contas são solicitações comuns


A crise económica está a levar centenas de munícipes a recorrer às câmaras para pedir emprego, casa ou ajuda para pagar as contas, realidade que os autarcas admitem não ser nova, mas que se tem acentuado nos últimos tempos.

O presidente da Câmara Municipal de Bragança, Jorge Nunes, admite estar a ser cada vez mais procurado por pessoas a pedirem emprego, da mesma forma que aumentam as solicitações de pagamento em prestações no município. Sublinha que os pedidos de emprego não são feitos no "âmbito do fenómeno da cunha", mas por "pessoas que necessitam de uma oportunidade de serem ajudadas", nomeadamente jovens licenciados. Outro grupo que começa a aparecer a pedir ajuda, segundo o autarca, são os trabalhadores da construção civil do concelho e da região, que estão a regressar de Espanha.

O presidente da Câmara de Aveiro, Élio Maia, afirma sentir hoje muito mais solicitações de munícipes à procura de emprego, do que no início do mandato. O autarca disse que lhe aparecem "dramas sociais terríveis", de pessoas que se queixam de que já não têm dinheiro para pagar o infantário, ou os livros dos filhos, perante os quais fica com um sentimento de impotência por nada poder fazer. Regista que o número de pedidos de audiência para pedir emprego tem aumentado nos últimos tempos, sobretudo de pessoas na casa dos 40 ou 50 anos, com poucas habilitações, e que o mercado de trabalho não consegue absorver, mas também de jovens licenciados. Um outro fenómeno com que o autarca de Aveiro se está a confrontar é o do desespero de pequenos construtores à procura de obras para fazer.

Em Pombal, o presidente do município, Narciso Mota, refere que "nos últimos dois, três anos, têm vindo a aumentar exponencialmente os pedidos de audiência para este efeito". Indicou que "aparecem mais mulheres que homens a pedir emprego para si, para os seus filhos ou outros familiares."

Recebo pessoas que me dizem: "Se souber alguma coisa... como fala com muita gente", disse a presidente da Câmara de Leiria, Isabel Damasceno, referindo ainda as "quantidades enormes de currículos" que chegam aos Paços do Concelho. A autarca conhece casos de munícipes que deixam de pagar a conta da água ou que pedem para fazê-lo a prestações, pedido sempre autorizado pelos serviços municipais.

Nas audiências semanais da Câmara de Beja, "os pedidos de emprego e casa são o pão nosso de cada dia", disse o autarca Francisco Santos. "Quando os outros serviços não conseguem dar resposta, as pessoas vêm à câmara", referiu. "Sete das nove pessoas" que atendeu recentemente "procuravam emprego e casa".

Nos últimos dois meses, a Câmara de Faro registou um aumento de pedidos de ajuda dos munícipes para pagar as rendas das casas, mas também a solicitar emprego, admitiu o presidente da autarquia José Apolinário. Para ajudar a população a pagar as rendas, Apolinário diz que pretende avançar em breve com um regulamento municipal de apoio às rendas. LUSA