17.11.08

Portugueses sem saúde para trabalhar até aos 65

Márcio Alves Candoso, in Diário de Notícias

Estatística. Dez países europeus não cumprem metas requeridas

Estudo revela que idosas portuguesas trabalham mais do que podem


Portugal encontra-se entre os dez países da União Europeia a 25 (UE/25) em que os homens não têm saúde para trabalhar até aos 65 anos. Segundo um estudo chefiado por Carol Jagger, da Universidade de Leicester (Inglaterra), que hoje deverá ser publicado na revista especializada The Lancet, os portugueses do sexo masculino só se encontram, em média, em condições físicas para trabalhar até aos 64,9 anos. No caso das mulheres é pior, já que a idade limite em que se encontram em condições de prestar serviço é aos 62,7 anos.

O estudo, elaborado no âmbito do Observatório Europeu de Esperança de Saúde, é importante para aquilatar da possibilidade de atingir uma das finalidades da Estratégia de Lisboa, que consiste em pôr pelo menos 50% das pessoas com idade entre 55 e 65 anos a trabalhar, já no ano de 2010.

Esta metodologia é considerada mais correcta para obter informação sobre disponibilidade para trabalhar do que a que se fica pela análise da esperança de vida. Na verdade, em todos os países europeus a esperança de vida está a crescer, o que está na base da ideia de que todos deveriam passar a trabalhar até mais tarde. Isso, aliás, tem vindo a ser reflectido nas legislações dos estados europeus, que têm atrasado a idade da reforma. Mas o que o estudo pergunta é outra coisa: aos 50 anos de vida, quantos é que ainda podemos contar com saúde? É que esse é que é considerado o dado de facto para aquilatar da possibilidade de continuar a trabalhar.

A estatística encontra grandes disparidades entre os países, nomeadamente quando se fala nos 10 novos em comparação com os 15 mais antigos, em desfavor dos primeiros. Mas abre pistas para outras questões. Por exemplo: qual é a actual idade mediana de reforma e qual é a idade média em que se perde a saúde necessária para trabalhar?

Em Portugal, o estudo demonstra que, actualmente, se está perto do limite ou até, curiosamente que este já foi ultrapassado. Assim, os homens estão a reformar-se, em média, aos 62,4 anos e a capacidade demonstrada de limite de saúde é os já referidos 64,9. No caso das mulheres é mais dramático: é que, a acreditar nas conclusões do estudo em referência, elas só têm saúde para trabalhar até aos 62,7 mas só se reformam aos 63,8. No entanto, vários países da Europa têm ainda grande margem de progressão. Por exemplo, na Dinamarca as mulheres reformam-se, em média, aos 60,7 anos, mas têm capacidade para trabalhar até aos 74,1.

Os autores do estudo revelam que por cada 1% de aumento do orçamento para a saúde os cidadãos europeus têm mais um ano de vida útil de trabalho. Contudo, não asseguram que isso tenha menos custos, já que a um incremento dos descontos para a Segurança Social poderá ter que ser subtraído esse tipo de investimento.