18.11.08

Investir mais um por cento nos idosos pode significar mais um ano de vida saudável

Andrea Cunha Freitas, in Jornal Público

Uma coisa é viver muito, outra é viver bem. Um estudo da revista The Lancet em 25 países da UE mostra que a esperança de viver com saúde depois dos 50 anos ainda é pouco animadora


A esperança de vida pode não ser o melhor marcador para avaliar diferenças entre países. Talvez seja melhor falar em esperança de saúde. Um novo estudo, que abrangeu os 25 países da União Europeia, oferece os dados necessários para que, a partir de agora, as comparações se façam olhando para os anos de vida saudáveis (healthy life years ou HLY na sigla em inglês). É que viver mais não significa viver melhor.

Segundo o artigo publicado ontem na revista médica britânica The Lancet, quanto maior o produto interno bruto e o investimento nos cuidados da população idosa, mais HLY pode esperar uma pessoa com 50 anos. Assim, a esperança de saúde depois dos 50 varia entre os nove e os 23 anos para os homens e entre os dez e os 24 anos para as mulheres. Curiosamente, nos dois sexos encontramos os mesmos países: a Dinamarca como a mais bem posicionada e a Estónia a revelar-se o país com menos HLY.

Os mais recentes indicadores mostram que a esperança de vida aumentou, mas os investigadores quiseram saber se estes anos extras estão a ser gozados em boa saúde. Os dados, alegam, podem ser importantes para desenhar futuras políticas sociais e de saúde, entrando como um importante indicador nas contas dos custos de saúde e da participação dos idosos na população activa.

Os investigadores revelam uma disparidade considerável nos 25 da UE e, feitas as contas, consideram que um acréscimo de um por cento nos cuidados para idosos pode representar mais um ano de vida saudável. A equipa coordenada por Carol Jagger, da Universidade de Leicester, no Reino Unido, deixa ainda o aviso: as metas definidas para 2010 (ter mais de 50 por cento da população com mais de 55 anos a trabalhar) podem não ser realistas.

O ponto de partida do estudo são os 50 anos. A partir daqui os investigadores começaram a contar a esperança de vida e os tais HLY. Para "simplificar a realidade sociopolítica", os 25 países foram divididos em dois grupos: Os 15 "países-base" de um lado e os recém-chegados dez do outro. Primeira conclusão: em geral, o primeiro grupo tinha mais esperança de vida e HLY aos 50 anos do que o grupo dos novos dez.
Obviamente, os dados são mais detalhados do que esta análise geral. Assim, no caso dos homens, percebeu-se que os países com mais anos de vida saudáveis aos 50 anos são a Dinamarca (23,6 anos) e Malta (21,7) e em pior posição está a Estónia (nove anos) e a Hungria (10,8). No caso das mulheres, a Dinamarca volta a ser o país onde se regista mais esperança de saúde (24,1 HLY), seguida por Malta (22,5). A Estónia (10,4) e a Hungria (11.4) surgem no final da tabela.

O factor desemprego
Os investigadores alertam ainda para a contribuição negativa do desemprego de longa duração e positiva da educação nos anos de vida saudáveis aos 50 anos de idade.

Apesar de sublinhar que não conhece as conclusões do estudo, Isabel Galriça Neto, especialista em cuidados paliativos, considera que estes dados voltam a lançar a questão: "A Medicina tem vindo a preocupar-se muito com a questão da cura. Mas, afinal, qual é o preço que as pessoas pagam por viver mais tempo?". A médica faz questão de separar as águas entre qualidade de vida e anos de vida saudáveis e nota também que falta avaliar o tipo de doença (limitação de actividade) que foi tido em conta no trabalho da equipa de Leicester. "Podemos estar doentes e ter qualidade de vida", diz, reconhecendo também que "muitas vezes a quantidade de vida não é acompanhada pela qualidade de vida". Para Manuel Teixeira Veríssimo, especialista em envelhecimento, o indicador HLY é muito importante. "Pode ser usado em termos económicos, uma vez que pode reflectir eventuais gastos e ajudar a fazer previsões", diz, concluindo: "Por isso, é tão importante investir na prevenção". Mas então viver mais pode ser viver pior? "Não necessariamente, mas o risco aumenta", responde.