Ana Cristina Pereira, in Jornal Público
Pelo menos 40 mulheres já foram este ano notícia por terem sido mortas em Portugal por um homem com quem mantinham ou tinham mantido uma relação íntima. Estas são contas do Observatório de Mulheres Assassinadas, um projecto da organização não governamental União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) que hoje lança a campanha Eu Não Sou Cúmplice.
A tentativa de "mobilizar as energias masculinas para esta batalha dos direitos humanos" pode ser inédita em território nacional, mas não o é à escala internacional. A iniciativa é uma associação à campanha Homens unidos pelo fim da violência contra as mulheres, uma resposta do Brasil a um repto do secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon.
Ban lançou em Fevereiro a campanha mundial Unite to End Violence Against Women, que se estenderá até 2015. Era para chamar toda a gente. O Brasil resolveu tentar chamar os homens. A mobilização será feita através da Internet.
A ideia é convencer pelo menos 90 mil homens a assinar um manifesto que condena a violência de género, incluindo líderes de todos os sectores, como o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A UMAR importou a ideia, explica Elisabete Brasil, da direcção da organização feminista. Só que não lhe chamou Homens unidos pelo fim da violência contra as mulheres. Preferiu a designação Eu Não Sou Cúmplice, já usada noutras acções internacionais.
Por diversas vezes este ano a UMAR alertou para uma aparente subida do número de mulheres assassinadas. Em 2006 contara 21 crimes de homicídio consumado aos quais somou dois "descobertos" mais tarde e 57 crimes de homicídio tentado. Em 2006 contara 39 consumados, 43 tentados. Estariam os agressores a tornar-se mais eficazes? Seriam os efeitos da crise?
De qualquer modo, o número nunca será rigoroso. Nele cabem apenas os homicídios noticiados pelos jornais. Nem todos os homicídios são notícia. E alguns dos homicídios tentados podem acabar por se tornar consumados.
Há várias campanhas a despontar, no embalo do Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, que se assinala a 25 de Novembro. Na foto, a campanha Contra a Violência Doméstica Meto a colher, do Projecto Direitos & Desafios, de Santa Maria da Feira.