João Manuel Rocha, in Jornal Público
Falta de trabalho afectava 433.700 pessoas no final do Verão, mais 23.800 do que três meses antes
O desemprego aumentou 0,4 por cento no terceiro trimestre face aos três meses anteriores e atingiu os 7,7 por cento, uma subida que contraria a tendência de queda que se vinha registando desde o primeiro trimestre de 2007. Nessa altura, a falta de trabalho atingiu os 8,4 por cento da população activa.
Os 7,7 por cento registados no final de Setembro passado correspondem a 433.700 pessoas, segundo os dados ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). O valor de desemprego no final do Verão fica, ainda assim, 0,2 pontos percentuais abaixo dos 7,9 por cento atingidos no mesmo período do ano passado.
As previsões do Governo são de que a taxa de desemprego fique, no conjunto do ano de 2008, em 7,6 por cento, valor igualmente previsto para 2009 no Orçamento do Estado. A Comissão Europeia antecipa uma subida do desemprego para 7,9 em 2009.
Os últimos dados sobre o desemprego deixam mais longe a meta fixado pelo Governo de aumentar em 150 mil o número de postos de trabalho durante a actual legislatura. No segundo trimestre deste ano tinham já sido criados 133.700 empregos, mas, segundo cálculos da Agência Lusa a partir dos dados ontem divulgados, o número de novos empregos só está agora 101.400 acima dos 5.094.400 que existiam no primeiro trimestre de 2005.
O aumento da taxa de desemprego no terceiro trimestre acompanha a habitual tendência de subida naquele período do ano e resultou do "efeito conjugado" do decréscimo da população empregada (0,6 por cento) e do acréscimo da população desempregada (5,8 por cento), indica a informação ontem divulgada pelo INE.
"Os efeitos da crise não se reflectem imediatamente, mas nos dados deste trimestre já se verifica uma diminuição do emprego", declarou ao PÚBLICO Nádia Simões, investigadora e professora do ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa).
Em números absolutos, os 433.700 desempregados significam uma redução de 10.700 face ao período homólogo (menos 2,4 por cento), mas um aumento de 23.800 (os referidos 5,8 por cento) quando comparados com o trimestre Abril-Maio-Julho.
O aumento trimestral da população desempregada deve-se essencialmente à evolução negativa verificada entre as mulheres, jovens com idade entre os 15 e os 34 anos, pessoas com o ensino superior, indivíduos à procura do primeiro e de novo emprego e desempregados.
No terceiro trimestre, a taxa de desemprego entre os homens foi de 6,5 por cento, o que significa um aumento de 0,2 pontos face aos três meses anteriores. Mas entre as mulheres o desemprego foi de 9,1 por cento, uma subida de 0,7 relativamente aos três meses anteriores. Comparando períodos homólogos, o desemprego baixou 0,1 por cento entre os homens e 0,2 por cento entre as mulheres.
No terceiro trimestre, e face ao período anterior, o desemprego só não cresceu no Algarve e na regiões autónomas, onde diminuiu, e em Lisboa, onde se manteve nos 7,9 por cento. A maior subida ocorreu no Norte (0,9 pontos percentuais, para se fixar em 9,1 por cento que são, a par do Alentejo, o valor mais alto do país). O maior decréscimo verificou-se no Algarve, que viu a taxa de desemprego baixar de 7,2 para 6,1 entre trimestres consecutivos, ainda que este último valor seja superior aos 5,9 registados um ano antes. com A.R.S.
Reacções
Bagão Félix: "Meta do Governo é irrealista"
O ex-ministro das Finanças Bagão Félix considerou que a previsão do Governo de baixar a taxa de desemprego para os 7,6 por cento é "completamente irrealista". Bagão Félix considerou também estar "completamente prejudicado" o objectivo do Governo de atingir os 150 mil postos de trabalho, pois, "muito provavelmente", nas Contas Trimestrais Nacionais (9 de Dezembro), o valor no 3.º trimestre mostrará que a criação líquida de postos de trabalho face a 2005 foi "muito reduzida".
Sócrates salienta descida homóloga
O primeiro-ministro considerou ontem que os mais recentes dados provam que há uma descida homóloga do desemprego em Portugal, contrariando a tendência internacional.
"Há menos desempregados neste terceiro trimestre do que havia no trimestre homólogo do ano anterior, o que significa que o desemprego este ano vai continuar a descer", sustentou José Sócrates.
CGTP quer "alterações de fundo"
A CGTP-IN defende que os últimos dados do INE reflectem a manutenção de um "modelo errado" e justificam "alterações de fundo" por parte do Governo. Em declarações à Lusa, o dirigente da central sindical, Arménio Carlos, explicou que a situação "é muito complexa", sendo necessária uma "ruptura" com as actuais políticas do executivo, que provaram já "estar falidas" do ponto de vista social. "Estamos pior do que estávamos em 2005, quando este Governo tomou posse, e isto é grave porque significa que as políticas do Governo, além de serem injustas, são incapazes de promover o crescimento do emprego e baixar os níveis de desemprego."
Portas: "Sócrates foi infeliz"
O líder do CDS-PP, Paulo Portas, considerou "muito infeliz" que o primeiro-ministro considere "boas notícias" os últimos dados sobre a taxa de desemprego, sustentando que entre o Verão e o Outono existem mais 23.800 desempregados. Portas acusa o chefe do Governo de "não estar a perceber o que está a acontecer na realidade do tecido económico e social português".