Pedro Olavo Simões, in Jornal de Notícias
Aposta em nichos de mercado, acompanhamento da tecnologia e busca constante de clientes são alguns segredos com que uma oficina de Matosinhos consegue escapar ao claro abrandamento da actividade no sector
Crise? Qual crise? A livre tradução de um título dos Supertramp, dos idos de 1975, surge como reacção instantânea quando se entra numa oficina, de média-grande dimensão, cheia de automóveis e de trabalhadores sem mãos a medir.
A situação pode ser enganosa, pois não há sector que escape à circunstância de o dinheiro se ir escapando, lampeiro dos bolsos de cada um, mas é relevante de uma outra forma de enfrentar a crise: contorná-la.
Poderá o exemplo que escolhemos não ser revelador do que efectivamente sucede no ramo das reparações automóveis (e é um facto que as garagens andam mais vazias), e não deve entender-se aqui qualquer mensagem publicitária que a lei e a deontologia vedam ao jornalista, mas é visível que a "Núcleocar", em Matosinhos, colhe os frutos de um posicionamento pró-activo no mercado, tanto pela exploração de nichos como pelo inconformismo traduzido na busca de clientes.
Georgina Baldaia, sócia-gerente, admite, até, que "este ano, em termos de facturação, está a ser melhor do que o ano passado", embora não lhe passem ao lado vários indicadores da forma como a crise toca os clientes, designadamente os particulares: o número de revisões diminuiu drasticamente, sendo que as pessoas tendem a levar o carro à oficina apenas em caso de inadiável necessidade; pede-se orçamento para tudo, até para uma prosaica mudança de óleo; há casos em que o carro, já pronto, fica uns dias na oficina até ser levantado (algo que costuma suceder ao sabor das datas em que os clientes recebem os ordenados).
O cartão de crédito é uma forma de pagamento normalmente afastada das oficinas, e, curiosamente, não será muito grande a solicitação dessa forma de pagamento. É vulgar, porém, a aceitação de cheques datados para dias em que o pagador esteja mais desafogado. E não é, geralmente, o particular que menos cumpre com as obrigações, que esse limita-se a sentir a crise na carne, mas empresas com frotas. "Sinto muitas dificuldades para pagar as minhas [da empresa] contas, porque tenho dificuldades para receber", explica Georgina Baldaia, notando ter já perdido muitos clientes, por estes não pagarem.
Além da necessidade de estar a par dos avanços tecnológicos de todas as marcas, para garantir competitividade, esta empresa passou a dedicar-se, também, ao restauro de carros antigos. A aposta nesse nicho de mercado, porquanto são poucas as ofertas de serviços na região do Porto, tem sido outra forma de manter a vitalidade do serviço e de garantir que "todos os trabalhadores são pagos a tempo e horas".