Pedro Souca Tavares, in Diário de Notícias
Educação. Num dia em que os alunos começam a regressar às aulas e o Ministério da Educação vai dando conta dos progressos registados no combate ao insucesso, um relatório da OCDE mostra que, na corrida das qualificações, continuamos longe dos melhores, e o pior é que não nos estamos a aproximar País a perder na corrida das qualificações
Na lista dos melhores países do mundo, continuamos a ser dos piores ao nível da qualificação das populações. Segundo o relatório Education at a Glance (Um olhar sobre a Educação) de 2008, da Organização para a Cooperação Económica e Desenvolvimento (OCDE), o 2.º ciclo (5.º e 6.º anos) continua a ser o referencial da escolaridade da maioria dos portugueses. E os progressos conseguidos nos últimos anos, essencialmente entre os mais novos, continuam a ser demasiado lentos para permitirem recuperar um atraso de décadas.
Segundo o relatório, que apresenta dezenas de indicadores relativos aos 30 estados membros, no grupo etário entre os 25 e os 64 anos - onde se concentra a esmagadora maioria da população activa - 57% dos portugueses não têm mais do que o 6.º ano de escolaridade ou ciclo inferior. Somando a estes dados o 3.º ciclo, verifica-se que, neste mesmo grupo, 72% tem apenas a escolaridade obrigatória. Na OCDE e nos 19 estados da União Europeia representados, só mesmo a Turquia tem 61% dos activos com o 6.º ano. Mas mesmo nesse país a percentagem que não chega ao secundário fica-se pelos 71%.
Para avaliar as distâncias que nos separam dos melhores basta dizer que metade dos países da OCDE não passam dos 10% com o 2.º ciclo. República Checa, Noruega e Reino Unido têm mesmo zero cidadãos nessas condições. E, além de portugueses e turcos, só os mexicanos (48%) passam dos 30%.Estes dados acabam por ter uma correspondência quase exacta ao nível dos empregados qualificados. Portugal, com 60% de efectivos sem qualquer treino ou formação específica e apenas 13% com cursos superiores, volta a ficar em penúltimo na lista, novamente à frente da Turquia (64%). No extremo oposto está o Canadá, onde metade dos trabalhadores tem cursos superiores, seguido de perto por Israel (46% com cursos superiores) e pelos Estados Unidos (39%).
Num contexto de escassas qualificações, não é surpreendente que, entre os activos portugueses, 78,7% dos homens e 60% das mulheres com o 2.º ciclo tenham um emprego. Valores bem acima da média da OCDE, que se situa nos 64,7% para eles e 38,7% das mulheres. No entanto, são já evidentes as vantagens de quem foi à universidade, não só no acesso ao trabalho como nos vencimentos.
Lenta recuperação
É claro que também há progressos significativos relativamente a Portugal. Entre os que concluíram pelo menos o secundário, há uma enorme diferença do grupo etário dos 55 aos 64 anos (cerca de 12%) para os que se encontram entre os 25 e os 34 (mais de 45%). É uma das diferenças mais dramáticas na OCDE e um sinal de que o País recupera de um atraso de décadas. O problema é que, até entre os mais jovens, continuamos a perder terreno para os outros países, apenas batendo o México e, claro está, a Turquia.
4200 euros anuais por aluno
Em relação ao investimento, os resultados portugueses são mais ambíguos. Por um lado, o País fica-se por um modesto 22.º lugar ao níveldos gastos por aluno, com 4200 euros anuais, muitos distantes dos 9000 dos Estados Unidos. Por outro, reconhece a OCDE, esse valor acaba por ficar acima da média da organização se tivermos em conta o Produto Interno Bruto do País. No entanto, refere também a organização, Portugal foi um dos poucos países onde o crescimento do investimento na educação não acompanhou o nível de outras grandes apostas do Estado, nomeadamente nas obras públicas.