Sérgio Aníbal, in Jornal Públic0
Consumo privado na zona euro registou no segundo trimestre a taxa de crescimento mais baixa dos últimos doze anos
Nas vésperas de mais uma reunião do Banco Central Europeu para decidir taxas de juro, ficou ontem a saber-se que os principais responsáveis pela travagem da economia da zona euro no segundo trimestre do ano foram os consumidores e que a tendência negativa pode estar ainda a acentuar-se.
O Eurostat divulgou os dados oficiais para a evolução da economia europeia no período de Abril a Junho deste ano e confirmou a quebra de 0,2 por cento no PIB da zona euro face ao trimestre imediatamente anterior. Este valor, que já tinha sido adiantado na estimativa rápida divulgada no mês passado, constitui a primeira retracção da economia desde a criação do euro em 1999.
A informação nova ontem dada pelo Eurostat tem a ver com a evolução das várias componentes do PIB. E aí a conclusão é a de que é ao nível do consumo privado que se regista um desempenho mais negativo. De acordo com o Eurostat, este indicador registou face ao primeiro trimestre do ano uma quebra de 0,2 por cento na zona euro, a primeira de que há registo. E, além disso, a variação face ao mesmo período do ano anterior caiu de 1,2 para 0,4 por cento, igualmente o valor mais baixo na série disponibilizada pelo Eurostat para os países da zona euro (desde 1996).
A forte quebra no consumo entre os europeus aconteceu numa altura em que se acumulavam os efeitos de uma subida dos preços do petróleo e dos alimentos e de uma alta das taxas de juro praticadas pelo mercado. Actualmente, o cenário nos mercados das matérias-primas já é mais favorável, no entanto, os últimos indicadores não dão grandes esperanças relativamente a uma recuperação do consumo privado durante o terceiro trimestre deste ano. Também, ontem, o Eurostat anunciou que, em Julho, as vendas no comércio a retalho caíram 0,4 por cento face a Junho e 2,8 por cento face ao período homólogo, um resultado pior do que o previsto. Além disso, os indicadores de confiança têm continuado a cair de forma acentuada.
Durante o segundo trimestre, não foi só o consumo que registou uma quebra acentuada durante o segundo trimestre. O investimento caiu 1,2 por cento em cadeia, abrandando para um crescimento de 2,4 por cento em termos homólogos, confirmando o maior pessimismo das empresas e a sua dificuldade em obter crédito. As exportações, afectadas pelo abrandamento mundial e pelo euro forte, perderam 0,4 por cento em cadeia e recuaram para uma variação de 3,6 por cento em termos homólogos.
Estes factores, em conjunto com a inflação, estarão hoje em discussão na reunião do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu, embora a generalidade dos analistas aposte para já na manutenção do nível das taxas de juro.