9.9.08

Consumo das famílias trava crescimento da economia

Rudolfo Rebêlo, in Diário de Notícias

Conjuntura. A economia cresceu abaixo das expectativas no segundo trimestre do ano, com os portugueses a gastarem menos 6,1% em carros e electrodomésticos e as exportações a aumentarem apenas 1,5%. Salvou-se o investimento, com subida de 4%. PIB pode ficar aquém de 1% este anoEm alimentos e em bens a factura das famílias subiu 1,4%A economia portuguesa está a crescer menos que o previsto. No segundo trimestre, pelas contas do Instituto Nacional de Estatística (INE), o produto interno bruto (PIB) aumentou apenas 0,7%, abaixo dos 0,9% esperados. A explicação está no corte dos gastos das famílias com a aquisição de bens, como carros e electrodomésticos; no apertar do cinto das despesas do Estado e na desaceleração das exportações. E as coisas só não foram piores porque o investimento aumentou 4%. O ministro da Economia minimiza os números.

Em comparação com os primeiros três meses, a economia cresceu 0,3% no segundo trimestre, de acordo com as contas nacionais, ontem divulgadas pelo INE. Um péssimo resultado, já que o Instituto baixou a fasquia - tinha previsto há 15 dias uma expansão de 0,4% - e, para além disso reviu em baixa (de -0,1% para -0,2%) o crescimento do primeiro trimestre em relação aos últimos três meses de 2007. Ou seja, o objectivo do Governo em "fazer" crescer a economia em pelo menos 1,3% este ano - meta revelada por José Sócrates, na semana passada - está agora seriamente comprometido.

O motor da economia continua a ser suportado pela procura interna (gastos das famílias, Estado e investimento), que aumentou 1,5% entre o segundo trimestre do ano passado e o mesmo período deste ano. Só que o combustível principal, o consumo, está com "poucas octanas".Acossados por altas taxas de juro - que afectam as prestações mensais com a casa - inflação elevada e baixos rendimentos, as famílias portuguesas gastaram apenas mais 1% no segundo trimestre, em comparação com o mesmo período ano passado. Pouco, já que o emprego aumentou 1,2%.

Ao mesmo tempo, demonstrando que os portugueses estão de bolsos vazios, as importações cresceram (em termos reais) parcos 3,3%.Em alimentos os consumidores gastaram mais 1,4% mas, em contrapartida, as famílias tiveram de cortar 6,1% (menos 162,6 milhões de euros) na factura de bens, como electrodomésticos. O INE afirma que este corte "poderá estar influenciado" pela redução do IVA de 21% para 20% em Julho último. Ou seja, a tesoura na factura de bens pode, afinal, tratar-se de um adiamento de compras.

As compras adiadas, podem explicar o aumento de existências em armazéns, a componente mais dinâmica do investimento. A aquisição de máquinas e equipamentos cresceu apenas 6,1%, ritmo inferior aos 7% verificados no primeiro trimestre enquanto a construção contraiu 2%, após uma quebra de 4% nos primeiros três meses do ano.

Resta um consolo: pela primeira vez, desde o início de 2005, o investimento na agricultura foi positivo, ao aumentar 2,1%.

Manuel Pinho, ministro da Economia, não se mostra impressionado pelo arrefecimento da economia. "Portugal está a crescer, enquanto a Alemanha, França e Reino Unido estão em território negativo", reagiu, destacando que a riqueza do país aumentou 0,3%, ao mesmo tempo que a Zona Euro "afundou" 0,2%.