António Marujo, Jornal Público
Bagão Félix intervém hoje e cardeal do Vaticano encerra iniciativa que debaterá relação próxima das instituições católicas à planificação do Estado social
Um retrato das instituições sociais e grupos informais de apoio social da Igreja Católica está a ser feito por uma equipa de investigadores da Universidade Católica, devendo os resultados estar concluídos até final do ano. O primeiro levantamento deste tipo de instituições será hoje publicamente apresentado em Fátima, durante o primeiro Congresso da Pastoral Social.
Alfredo Teixeira, que tem coordenado o estudo, diz que os primeiros dados - ainda faltam as fichas de algumas das 20 dioceses do país -, aliados à experiência no terreno, fazem ressaltar a principal característica das instituições sociais católicas: o de estarem próximas dos objectivos do Estado social.Esta realidade sublinha a grande cooperação das instituições e comunidades católicas com as preocupações e problemas da sociedade, diz o investigador.
Mas traduz também um aspecto negativo: "É difícil identificar o específico cristão." E essa tensão entre os agentes sociais católicos nota-se cada vez mais, diz Alfredo Teixeira: "Começam a descobrir que uma planificação colada ao Estado social fica refém de políticas do momento ou de cortes orçamentais." Será necessário, então, desenvolver depois um estudo qualitativo sobre os agentes de acção social católica, um outro sobre a imagem pública da acção social da Igreja. Chegar à criação de um observatório para esta área é uma possibilidade. O congresso, que dura até quinta, assinala os 25 anos das semanas de Pastoral Social e também da publicação do decreto-lei que regula a acção das instituições sociais. O autor desse diploma legal, Bagão Félix, era na altura secretário de Estado dos governos de Cavaco Silva e foi ministro com Durão Barroso e Santana Lopes. E intervém esta manhã no congresso.
"É uma forma de abrir o debate", não se pretende fazer a lista das discordâncias da Igreja com o Governo em matéria social, diz o bispo Carlos Azevedo, ainda porta-voz da Conferência Episcopal e principal responsável pela iniciativa. Embora haja "questões por resolver" entre Igreja e Governo, o bispo não tem dúvida de que a realidade mudou, o que deveria levar ao debate sobre a necessidade ou não de alterar a lei de há 25 anos. O congresso pretende olhar o país e "contribuir com soluções" para questões como a pobreza. "Não há instituições [além da Igreja] tão próximas dos problemas" das pessoas, diz o bispo. Formar agentes, estudar experiências e congregar esforços são outros objectivos do congresso, que encerra com uma intervenção do cardeal Renato Martino, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz.