9.9.08

Países emergentes crescem quatro vezes mais do que os ricos

Nuno Amaral, São Paulo, in Jornal Público

Economia mundial poderá crescer este ano menos um ponto do que em 2007, mas as potências que despertam seguem a um ritmo muito mais acelerado

A confirmarem-se as previsões do Relatório de Comércio e Desenvolvimento da ONU, este ano irá verificar-se a maior discrepância entre o ritmo de crescimento de países ricos e emergentes dos últimos 15 anos. De acordo com os cálculos da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), os países em desenvolvimento deverão crescer 6,4 por cento em 2008, o que evidencia um forte contraste com a taxa de 1,6 por cento prevista para os países desenvolvidos, que estão a sofrer fortes impactos da crise financeira global.

Na génese deste descompasso está o aumento do preço dos alimentos, agravado pelo crescimento da procura nos países em desenvolvimento, como o Brasil - onde os programas de Lula da Silva têm estimulado o consumo. Os economistas na ONU explicam que a economia mundial "balança à beira de uma recessão" e referem que continua a existir "uma grande influência de empresas que procuram retornos de dois dígitos de uma economia real que cresce a um passo muito mais lento". E mais: um sis-tema financeiro que, a cada três ou quatro anos, está sujeito a crises severas deve ter algum defeito fundamental. "A incerteza e a instabilidade internacional nos mercados financeiros, de câmbio e de matérias-primas, além das dúvidas em relação à direcção da política monetária em alguns países desenvolvidos, contribui para um panorama sombrio na economia mundial e pode representar riscos consideráveis para o mundo em desenvolvimento", alertaram no relatório.

Para o Brasil, a Unctad estima umcrescimento de 4,8 por cento em 2008, um pouco além da média da América Latina (4,6), mas muito atrás das projecções avançadas para a China (10 por cento) e Índia (7,6). Este cenário de optimismo pode, no entanto, sofrer um revés, estima este grupo de economistas. "O crescimento nos países em desenvolvimento e nos mercados emergentes foi bastante resistente na primeira metade de 2008, mas há evidências crescentes de que eles não poderão escapar de uma desaceleração global", lê-se no documento.

Pelas previsões do relatório, a economia global como um todo deve crescer três por cento, um ponto percentual a menos do que em 2007.No mesmo documento, a UNCTAD faz uma forte crítica à política monetária adoptada por países como o Brasil. A entidade afirma que as taxas de juro cobradas na América Latina são "consideravelmente elevadas" e que os bancos centrais da região "são exclusivamente focados no controlo da inflação", atitude que prejudica o crescimento económico dos países.