Nuno Amaral, São Paulo, in Jornal Público
Economia mundial poderá crescer este ano menos um ponto do que em 2007, mas as potências que despertam seguem a um ritmo muito mais acelerado
A confirmarem-se as previsões do Relatório de Comércio e Desenvolvimento da ONU, este ano irá verificar-se a maior discrepância entre o ritmo de crescimento de países ricos e emergentes dos últimos 15 anos. De acordo com os cálculos da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), os países em desenvolvimento deverão crescer 6,4 por cento em 2008, o que evidencia um forte contraste com a taxa de 1,6 por cento prevista para os países desenvolvidos, que estão a sofrer fortes impactos da crise financeira global.
Na génese deste descompasso está o aumento do preço dos alimentos, agravado pelo crescimento da procura nos países em desenvolvimento, como o Brasil - onde os programas de Lula da Silva têm estimulado o consumo. Os economistas na ONU explicam que a economia mundial "balança à beira de uma recessão" e referem que continua a existir "uma grande influência de empresas que procuram retornos de dois dígitos de uma economia real que cresce a um passo muito mais lento". E mais: um sis-tema financeiro que, a cada três ou quatro anos, está sujeito a crises severas deve ter algum defeito fundamental. "A incerteza e a instabilidade internacional nos mercados financeiros, de câmbio e de matérias-primas, além das dúvidas em relação à direcção da política monetária em alguns países desenvolvidos, contribui para um panorama sombrio na economia mundial e pode representar riscos consideráveis para o mundo em desenvolvimento", alertaram no relatório.
Para o Brasil, a Unctad estima umcrescimento de 4,8 por cento em 2008, um pouco além da média da América Latina (4,6), mas muito atrás das projecções avançadas para a China (10 por cento) e Índia (7,6). Este cenário de optimismo pode, no entanto, sofrer um revés, estima este grupo de economistas. "O crescimento nos países em desenvolvimento e nos mercados emergentes foi bastante resistente na primeira metade de 2008, mas há evidências crescentes de que eles não poderão escapar de uma desaceleração global", lê-se no documento.
Pelas previsões do relatório, a economia global como um todo deve crescer três por cento, um ponto percentual a menos do que em 2007.No mesmo documento, a UNCTAD faz uma forte crítica à política monetária adoptada por países como o Brasil. A entidade afirma que as taxas de juro cobradas na América Latina são "consideravelmente elevadas" e que os bancos centrais da região "são exclusivamente focados no controlo da inflação", atitude que prejudica o crescimento económico dos países.