António Marujo, in Jornal Público
Congresso social católico debate necessidade de mais autonomia das organizações da Igreja de apoio social
As instituições de solidariedade social católicas estão demasiado presas à agenda do Estado social e dos apoios governamentais, consideraram ontem vários intervenientes no Congresso da Pastoral Social Católica, que decorre em Fátima até amanhã. "O apoio do Estado deve ser cada vez mais atenuado, para que haja liberdade e autonomia das instituições. Durante algum tempo houve demasiada dependência do Estado", afirmou Carlos Azevedo, porta-voz da Conferência Episcopal. O mesmo admitiu Bagão Félix, antigo ministro da Segurança Social no Governo de Durão Barroso. "Obviamente, quando se está tão dependente do dinheiro do Estado, o poder do financiador tende a crescer", acrescentou.
Está em causa a "identidade" das instituições sociais católicas, defendeu Carlos Azevedo. O bispo referiu ainda a necessidade de essas organizações sociais terem que ser "sustentadas também pela comunidade". Até porque o exercício da caridade cristã acabou por ficar reduzido só à "organização, porque os fundos vinham só do Estado".
"Há muitas instituições sociais da Igreja que nem sequer fazem referência à doutrina social da Igreja, onde é impossível dizer a palavra caridade, onde não há espiritualidade nem formação cristã", criticou entretanto Bagão Félix. Foi ele o responsável, enquanto secretário de Estado da Segurança Social dos governos de Cavaco Silva, pelo Decreto-Lei nº 119/83, que regula os apoios sociais. Bagão criticou ainda implicitamente as políticas do actual Governo do PS: "A actual lei de bases da Segurança Social, de 2007, deixou de falar da família e do princípio da subsidiariedade". E há políticos que "fazem um discurso de conformidade" com as instituições sociais, mas "desconfiam de algumas formas de solidariedade".
António Marcelino, ex-bispo de Aveiro e que há 25 anos foi o responsável pelo início das semanas de pastoral social, contestou a prática de algumas instituições católicas: "As que ganham dinheiro à custa dos pobres não são dignas de ser chamadas cristãs", afirmou.