Elísio Assunção, in Fátima Missionária
«O terrorismo leva à pobreza e a pobreza leva ao terrorismo», afirmou em Fátima o cardeal Raffalelo Martino, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, no final do I Congresso da Pastoral Social
O cardeal considerou que um dos temas futuros da pastoral social passa pela «tragédia do terrorismo internacional», mas também sobre «os progressos e regressões das democracias, o poder financeiro transnacional, as novidades do mundo do trabalho, as novas formas de injustiça e de pobreza, os novos fundamentalismos». Raffalelo Martino destacou ainda a existência de novas pobrezas no mundo actual. «Não é só a pobreza da falta de bens. Há também a pobreza ideológica». O responsável do Vaticano considerou a solidão como uma forma de pobreza: «As pessoas têm coisas, mas encontram-se sós. Isso é pobreza». Por sua vez, o presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, Carlos Azevedo, afirmou que, na luta da Igreja contra a pobreza, «não é a quantidade do auxílio aos pobres que estará em jogo em primeiro lugar, mas a nossa capacidade de ter um novo olhar sobre estas situações».
Sobre o tema “Intervir na sociedade, hoje! Memória e projecto”, os trabalhos do I Congresso da Pastoral Social coincidiram com a XXV Semana da Pastoral Social, tendo iniciado terça-feira. No terceiro e último dia, a presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz (CNJP), Manuela Silva, desafiou as instituições de solidariedade social a criarem uma provedoria de direitos dos pobres. «Tal provedoria, como a designação sugere, seria a voz dos pobres junto dos poderes públicos, mas também uma voz junto dos próprios pobres, dando-lhes a conhecer os seus direitos e ajudando-os a suprir défices de informação, conhecimento e participação».
Manuela Silva admitiu que «terá aumentado o grau de consciencialização colectiva acerca da pobreza do país». Mas acrescentou: «Contudo, o certo é que continuamos presos a preconceitos desresponsabilizantes quanto às causas da pobreza e, consequentemente, surdos e mudos em relação à necessidade de as remover». A presidente da CNJP disse ainda que as políticas e instrumentos de combate à pobreza “nem sempre são implementados com a eficiência desejada».
Por sua vez, o presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, considerou que «a pobreza não é uma fatalidade» e que para a sua erradicação «basta vontade política e ética». Referiu que «a acção social e caritativa não pode ser vivida como uma acção periférica e, muito menos, como uma acção optativa no conjunto das actividades pastorais». Não é também «uma mera acção supletiva para responder a necessidades que não estão cobertas pela sociedade, mas sim um elemento constitutivo da própria Igreja».
Eugénio da Fonseca defendeu que é «necessário alterar uma série de aspectos» da acção pastoral da Igreja. Defendeu que se deve «passar de uma acção assistencialista, duvidosamente regeneradora, para uma acção integrada e integral». No entanto «a assistência, em forma de ajudas materiais, é necessária e não se deve renunciar a ela», esclareceu o presidente da Catitas Portuguesa. E acrescentou: «É um meio para que as pessoas disponham das condições necessárias para caminhar no sentido da sua integração social, mas não pode ser o fim da acção social da Igreja».