Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas, in Jornal Público
Optimismo dos responsáveis políticos sobre a capacidade da Europa escapar à crise caiu por terra com a desaceleração sentida
A economia da eurolândia vai ter este ano um crescimento muito inferior ao previsto há apenas cinco meses e está mesmo a um triz de uma recessão devido à crise dos mercados financeiros e à alta dos preços do petróleo.
Esta situação ficou ontem patente nas previsões económicas interinas da Comissão Europeia sobre as sete maiores economias da União Europeia (UE) - França, Alemanha, Itália, Espanha e Holanda, na zona euro, a par do Reino Unido e da Polónia. Bruxelas reviu fortemente em baixa o seu anterior prognóstico de Abril, apontando agora para um crescimento de 1,3 por cento da economia dos 15 membros do euro (1,4 por cento no conjunto dos 27) contra o valor de 1,7 por cento esperado ainda há pouco (dois por cento para a UE). Os dois valores representam metade do crescimento de 2007.
Para Joaquin Almunia, comissário europeu responsável pelas questões económicas e financeiras, esta situação resulta da continuação da turbulência nos mercados financeiros, da quase duplicação dos preços da energia e de outras matérias-primas, das "correcções" verificadas nalguns mercados imobiliários e da desaceleração da economia mundial.
Por terra cai o optimismo vigente até meados deste ano de que a economia da eurolândia conseguiria escapar à crise financeira sem danos de maior devido à solidez dos seus indicadores fundamentais. "A desaceleração é mais acentuada do que tínhamos previsto", reonheceu Almunia. Mais complicado ainda, a zona euro deverá escapar quase por milagre a uma recessão técnica (dois trimestres consecutivos de crescimento negativo): à contracção (menos 0,2 por cento) registada no segundo trimestre deste ano, seguir-se-á previsivelmente uma estagnação no terceiro. Para o quarto trimestre, Bruxelas prevê um crescimento marginalmente melhor de 0,1 por cento. Alemanha, Espanha e Reino Unido terão dois trimestres seguidos de contracção, embora Bruxelas não preveja uma recessão para a totalidade do ano em nenhuma destas economias.
Prudência instala-se
Almunia procurou temperar estes maus resultados frisando que o carácter decepcionante do segundo trimestre foi o contrapeso de uma actividade particularmente dinâmica nos primeiros três meses do ano - mais 0,7 por cento na zona euro - que deve, aliás, garantir um resultado anual positivo, sobretudo na Alemanha.
O comissário, que nas últimas semanas expressou algumas esperanças de uma retoma em 2009, mostrou-se ontem mais prudente, frisando que os riscos que pesam sobre a economia europeia permanecem elevados - persistência da fragilidade do sistema financeiro internacional e da confiança dos consumidores, a par de quebras da produção industrial - enquanto o elevado grau de incerteza que rodeia as previsões não permite grandes prognósticos. "Esperamos que este perfil negativo para o fim do ano seja compensado pelo perfil oposto em 2009", limitou-se a afirmar.
Neste cenário deprimido, a inflação parece constituir a única boa notícia: segundo Bruxelas, a alta dos preços deverá ter atingido o seu pico neste terceiro trimestre (quatro por cento anuais em Julho), devendo estabilizar, no conjunto do ano, nos 2,6 por cento para a eurolândia e 3,8 por cento para a UE. Esta alta dos preços, permanece quase o dobro do valor de referência para a fixação da política monetária do Banco Central Europeu (BCE), resulta quase exclusivamente da escalada do petróleo e dos produtos alimentares.