Alexandra Carreira, Bruxelas, in Diário de Notícias
Previsões. Comissão Europeia reconhece que a UE entrou na estagnação e afirma que Espanha, principal cliente das exportações nacionais, já está em recessão, tal como a Alemanha. Portugal será arrastado e vai agravar a crise económica nos próximos mesesAs cinco maiores economias da UE em contracção
A Europa está à beira de uma recessão técnica e Portugal será arrastado no turbilhão económico. Ontem, depois de mais uma revisão em baixa das previsões, o relatório intercalar apresentado pelo comissário Joaquín Almunia mostra uma Alemanha e uma Espanha com quedas consecutivas em dois trimestres. De uma expansão de 1,7% esperados na Primavera, a Zona Euro perde quatro décimas nos pontos percentuais; o pro- duto interno bruto (PIB) da UE27 irá arrefecer para 1,4% este ano, bem menos que os 2% esperados anteriormente. A análise de Bruxelas consiste numa avaliação intermédia do comportamento das sete maiores economias da UE, que representam cerca de 80% do PIB europeu.
Os números, admite Joaquín Almunia, "dão más notícias" e mostram que, à excepção da Polónia, de fora da moeda única, nenhuma das grandes economias escapa aos ventos da crise internacional que dura já há um ano. No segundo trimestre do ano, verificou-se na Alemanha, em França e na Itália um período recessivo. A Zona Euro e a UE acabaram por ser contagiadas. Neste penúltimo trimestre de 2008, a Alemanha permanece em terreno negativo, "apesar de a economia assentar em fundamentais sólidos", refere o espanhol Almunia a propósito. Espanha entra agora também no vermelho, prevendo- -se que aí se mantenha até final do ano. As economias francesa e italiana estagnam, a acusar os efeitos de uma valorização do euro nas respectivas exportações.
À excepção de Espanha e do Reino Unido, o panorama melhora, ainda que timidamente, na recta final de 2008. O resultado esperado pela Comissão é que tanto os 15 da moeda europeia como o conjunto dos 27 registem um crescimento do PIB igual a uma décima. Os preços vão continuar a subir, pressionados pela alta internacional dos alimentos e do petróleo. Apesar da recente desaceleração das matérias-primas, a inflação na Zona Euro, segundo os números de Bruxelas, deverá atingir 3,6%, mais cinco décimas de ponto que o previsto na Primavera; na UE, os preços só vão parar nos 3,8%, mais duas décimas que as projecções anteriores. Apesar de tudo, e já a reflectir a recente baixa dos preços internacionais, o último trimestre do ano parece trazer melhores notícias, com as sete maiores economias a revelarem descidas significativas na taxa de inflação.
A recessão europeia deverá infectar Portugal. "Dificilmente o País deverá escapar a uma recessão", afirma João Ferreira do Amaral, economista, no que é acompanhado por João César das Neves. A crise deverá dominar a reunião informal que junta os responsáveis europeus das Finanças, em Nice, a partir desta tarde. Joaquín Almunia reconheceu, no final da comunicação aos jornalistas, que "a situação é muito incerta", mas destacou que o importante é "arranjar forma de conter as tensões nos mercados mundiais". com R.R.