11.9.08

Empresas portuguesas criam rede para ajudar refugiados

Patríca Jesus, in Diário de Notícias

Solidariedade. Alto Comissário alerta para novo aumento do número de refugiados


Guterres elogiou projecto mas diz que há poucas razões para optimistmo Numa iniciativa inédita a nível mundial, um conjunto de empresas portuguesas juntou-se para criar a HELPIN, uma rede para angariar fundos para os refugiados, coordenada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

O projecto foi ontem apresentado pelo Alto Comissário António Guterres, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa. É que, se o século XX foi o século do povo, "o século XXI é o século do povo em movimento. E as pessoas estão em movimento não apenas porque escolhem fazê-lo, em busca de uma vida melhor, mas muitas porque não têm outra alternativa" , explicou António Guterres. Num "momento particularmente doloroso", já que o número de refugiados está novamente a aumentar desde os primeiros anos do século, "a assunção destas responsabilidades pela sociedade civil , quando os estados não podem ou não querem fazê-lo, tem um enorme valor", insistiu Guterres.

Não só porque irá angariar dinheiro para ajudar os mais carenciados, mas também como mobilizador da sociedade - um projecto que o Alto Comissário espera que tenha "réplicas" à escala mundial.A rede visa angariar fundos para refugiados em situações dramática: "quando as pessoas vivem há 10 ou 20 anos numa zona desértica, exclusivamente dependentes de ajuda alimentar, há consequências para a saúde - 60% das pessoas nos campos de refugiados que visitei sofre de anemia", disse, o que é grave no caso de crianças e das grávidas.

Esta é a situação de milhões de pessoas em África, muitas em crises humanitárias esquecidas pela comunidade internacional. "Quando olhamos para os vários conflitos não há muitas razões para optimismo. Estamos perante um agudizar das crises de natureza política", confessou o Alto Comissário, admitindo que seria necessário o ACNUR gastar mais 75% para fazer o trabalho que deveria fazer. O número de refugiados no mundo já atinge 11,4 milhões, enquanto o dos deslocados no interior dos seus países é de 27 milhões. Estes últimos estão ainda mais desprotegidos, porque muitas vezes "os governos dos seus países são parte do problema", como no Darfur e em Myanmar.