3.9.08

Zona euro quase não cresce até ao final do ano, prevê a OCDE

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

Mais pessimismo na Europa e mais confiança nos EUA. A OCDE reviu as suas previsões e avisa que a crise financeira ainda está por resolver

A economia europeia está a travar ainda mais do que o esperado e deverá apresentar, durante a segunda metade do ano, um ritmo de crescimento muito próximo de zero. As previsões são da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que ontem foi forçada a rever em baixa as projecções que tinha feito no passado mês de Junho para as principais economias do planeta.

Na avaliação ao estado da economia mundial, os responsáveis da OCDE vêem agora a Europa a crescer menos do que o previsto e os EUA, onde a cri-se começou, a resistir melhor do que era inicialmente temido. Assim, para a zona euro, aponta-se para um crescimento económico no total de 2008 de 1,3 por cento, quando em Junho se previa um valor de 1,7 por cento. Nos EUA, passou-se de uma previsão de 1,2 para 1,8 por cento. A OCDE reviu ainda em forte baixa as previsões feitas para o Reino Unido, estando também mais pessimista no que diz respeito ao Japão.

Estas alterações estão sobretudo relacionadas com o desempenho revelado no segundo trimestre do ano. Nesse período, a zona euro registou a primeira contracção do PIB desde a criação da moeda única, ao passo que os EUA resistiram graças ao crescimento das exportações e ao estímulo orçamental posto em prática pelas autoridades. O tom geral das novas projecções vai para a preocupação com o impacto profundo e prolongado que a crise nos mercados financeiro, imobiliário e de matérias-primas vai continuar a ter, até ao final do ano, sobre a economia real. "A turbulência no mercado financeiro, a quebra de preços no imobiliário e a subida dos preços das matérias-primas continuam a limitar o crescimento global e, ao mesmo tempo, a evoluir rapidamente", afirmou ontem a OCDE.

O documento ontem divulgado apresentou ainda novas previsões para as três maiores economias da zona euro (Alemanha, França e Itália). Para todas, efectuou uma revisão em baixa das estimativas de crescimento. A Alemanha é a que melhor resiste, com um crescimento em 2008 de 1,5 por cento, a França apresenta a maior correcção em baixa das projecções e a Itália continua a ser, destacada, a economia que menos cresce. Para os outros países da zona euro, incluindo Portugal, não foram apresentadas novas previsões. No entanto, para a economia portugue-sa, o simples facto de as maiores eco-nomias europeias estarem a caminho de um fim de ano de crescimento muito lento constitui só por si umamá notícia. É que, em conjunto comEspanha e Reino Unido, economiasonde o abrandamento pode ser ain-da mais forte, estes são os paísespara onde se dirige a maior partedas exportações nacionais.

Ameaça de recessão?

O cenário traçado pela OCDE para a Europa é o mais sombrio dos últimos anos, mas a entidade sediada em Paris teve o cuidado de não utilizar, no seu relatório, a palavra recessão. O economista-chefe da OCDE, Jorgen Elmeskov, justificou este facto defendendo que "não existe uma grande diferença entre uma ligeira descida do PIB e uma ligeira subida". Ainda assim, olhando para os números ontem apresentados, é possível verificar que, para as principais economia da zona euro, uma recessão técnica (definida como dois trimestres consecutivos de crescimento negativo) é uma ameaça evidente.

A OCDE antecipa taxas de crescimento anualizadas (o valor que se ve-rificaria no total do ano se se registasse nos quatro trimestres o mesmo ritmo de crescimento) para o terceiro e quarto trimestres deste ano sempre abaixo de 0,8 por cento para a zona euro e para as suas três maiores economias. Isto significa que a variação trimestral em cadeia prevista para o PIB nesses períodos estará sempre muito próxima de zero. Perante o actual cenário de incerteza, os riscos de ocorrência de resultados negativos são elevados, com inevitáveis consequências a nível político e de confiança dos agentes económicos.