18.10.08

ASSOCIADA À FALTA DE DINHEIRO - Pobreza envergonhada aumenta nos Açores

in A União

Várias instituições de solidariedade social reconhecem que o número de pobres tem aumentado na região.

No Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza (ontem), a Delegação da Cruz Vermelha nos Açores revelou ter à sua conta cerca de 5.400 carenciados e nos últimos anos tem registado uma enorme procura em mobiliário e vestuário.

Nos últimos meses começaram a surgir casos de famílias que apesar de auferirem uma remuneração mensal por conta de outrem não conseguem satisfazer todas as suas contas e a prestação da casa.

Ainda esta semana, a televisão pública mostrou um caso, na freguesia do Porto Judeu, onde uma família de 4 filhos e com a soma dos dois vencimentos a rondar os 1000 euros mensais, não consegue pagar o aluguer da moradia e satisfazer as despesas do agregado familiar. Estes são, de acordo com as instituições de solidariedade social, os casos mais gritantes porque muitas vezes “a vergonha” impede a família de pedir auxílio.

A Cruz Vermelha Portuguesa revela que encaminha várias famílias que solicitam produtos alimentícios para a Delegação do Banco Alimentar na ilha Terceira. Contudo, quer no vestuário que no mobiliário a delegação de Angra, uma das mais activas do país, diz satisfazer todos os casos urgentes que lhe batem à porta. “Graças Deus que o número de pessoas e empresas que doam roupa e mobília também aumentou significativamente nos Açores. Quase todas as semanas recebemos vestuário para distribuir”, refere Otávio Teixeira, comandante da Delegação da Cruz Vermelha nos Açores (cargo que ocupa há 20 anos).

O sociólogo Fernando Diogo, autor do livro Pobreza, garante que a pobreza nos Açores está associada à falta de dinheiro e não tanto à exclusão social.

O investigador universitário confirma a ideia defendida pelas instituições de solidariedade social, “de forma geral, falamos de uma pobreza integrada, associada aos baixos rendimentos, à vulnerabilidade em relação aos efeitos do alcoolismo e às baixas qualificações escolares. Nesse sentido, é uma pobreza muito diferente daquela que se vive em França, na Alemanha, na Inglaterra ou mesmo nos Estados Unidos, onde está, sobretudo, associada à exclusão social”, explica o sociólogo.

Em Portugal, os dados revelam um total de 120.943 agregados com processamento de RSI (Rendimento Social de Inserção), sendo que é no Porto onde se encontra a maior fatia de beneficiários, com 43.462 famílias inscritas. Relativamente ao início deste ano, este total representa um acréscimo de mais 8.665 agregados inscritos para usufruírem deste subsídio. No que toca aos Açores, estão a receber o rendimento 5007 famílias.

Em Agosto, o governo negou a veracidade das notícias que apontam o arquipélago como uma das regiões mais afectadas pela pobreza. Domingos Cunha precisou que, em 1999, os Açores registavam 27.666 beneficiários e 7.850 agregados familiares abrangidas pelo RSI, sendo que, em Junho de 2008, esses valores baixaram para 17.303 e 5.003, respectivamente.

Em 10 anos, assistiu-se, na Região, a uma diminuição de 10.363 beneficiários e de 2. 847 agregados abrangidos por essa medida de combate à pobreza e exclusão social, acrescentou na ocasião.