17.10.08

Cem pessoas morrem sozinhas todos os anos em Lisboa

in Jornal de Notícias

Numa cidade com meio milhão de habitantes como Lisboa há quem viva tão só que mesmo na hora de morrer não tem quem o acompanhe. Este ano, 146 pessoas morreram sozinhas na cidade, desconhecidos que a Misericórdia vai lembrar esta sexta-feira, Dia Internacional da Erradicação da Pobreza.

São pessoas sem família ou amigos. São desconhecidos que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa vai recordar hoje, Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza e dos Sem Abrigo, numa missa celebrada pelo Bispo Auxiliar de Lisboa na Igreja de S.Roque. No entanto, a ideia é, em anos futuros, alargar a iniciativa a todas a confissões religiosas.

Na igreja vão estar 146 bandeiras com o nome de cada uma das pessoas que desde o início do ano e até esta semana morreram completamente sós.

Fazer as cerimónias fúnebres a quem morre sozinho em casa, nos hospitais ou nas ruas da cidade de Lisboa é uma das missões da Irmandade de S.Roque da Santa Casa da Misericórdia.

Todos os anos morrem na capital pelo menos 100 pessoas nestas condições. São jovens, idosos, crianças, portugueses e estrangeiros.

Há um pouco de tudo, explicou à Lusa Mariana Cajulo, voluntária da Irmandade de S.Roque.

"Fazer o serviço fúnebre com toda a dignidade dando a estas pessoas um funeral condigno é uma das missões da Santa Casa da Misericórdia e da Irmandade", explicou.

A iniciativa de hoje pretende assinalar uma data e ao mesmo tempo prestar uma homenagem a estas pessoas.

No futuro, explicou Mariana Cajulo, há a ideia de fazer com que esta cerimónia seja feita com todas as confissões religiosas.

"Afinal quando ajudamos um sem abrigo também não perguntamos de que religião é e sobre estas pessoas também desconhecemos qual a sua fé", disse.

Em Lisboa, segundo dados da autarquia, há pelo menos mil pessoas a viver na rua.

A irmandade de S.Roque nasceu quase na mesma altura da Santa Casa da Misericórdia. Foi instituída no século VI e está dotada de estatutos próprios.

Esta Irmandade ainda hoje existe, conservando-se em seu poder a Relíquia de São Roque e a bula que atesta a sua criação.