Raquel Ramalho Lopes, in RTP
A iniciativa "Levanta-te e actua" assinalou em Portugal o Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza
Dezoito por cento da população vive com menos de 366 euros por mês, o valor médio do rendimento nacional. Portugal é o país da União Europeia que mais reduziu a pobreza nos últimos anos, mas mesmo assim continua acima da média europeia.
Portugal registou em 2006 - data dos últimos dados do gabinete de Estatística da União Europeia - uma recuperação dos níveis da pobreza, cujo limiar foi estabelecido em 60 por cento do rendimento médio em cada país.
Além de Portugal, só Irlanda, Holanda e Malta registaram progressos no combate à pobreza.
No limiar da pobreza viviam 16 por cento dos europeus, o que corresponde a 78 milhões de pessoas. O comissário europeu do Emprego, Assuntos Sociais e Igualdade de Oportunidades sustenta que é preciso “fazer mais”.
Os níveis de pobreza pioraram na Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Hungria, Itália, Lituânia, Letónia, Luxemburgo, Polónia, Suécia e Roménia.
Em todo o mundo, morrem diariamente mais de 50 mil pessoas de pobreza extrema. A fome é uma das faces da pobreza. Novecentos milhões de pessoas não conseguem garantir uma alimentação adequada. Mais de mil milhões de pessoas sobrevivem com menos de um dólar por dia.
Ministro da Segurança Social quer chegar à média europeia
As “transferências sociais” são o principal motivo da redução da pobreza em Portugal, sustenta o ministro do Trabalho e da Segurança Social, que também destaca a pensão mínima fixada em 1999. Vieira da Silva apontou a evolução dos números da pobreza em Portugal desde 1977.
A 7.ª Mesa-Redonda sobre a Pobreza e a Exclusão Social reuniu, em Marselha, os responsáveis pelo projecto da Comissão Europeia de luta contra a pobreza, que visa garantir um rendimento mínimo, políticas que favoreçam a inserção no mercado de trabalho e acesso a serviços sociais de qualidade.
Dia para a Erradicação da Pobreza assinalado em todo o país
Mais de 300 alunos da Escola Secundária José Gomes Ferreira, em Lisboa, participaram na iniciativa “Levanta-te e actua”, que pede aos Governos que cumpram as promessas de combate à pobreza definidas nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.
No Porto, a Fundação Filos promoveu um debate em que o reforço da acção local foi apontado como solução para combater a pobreza.
A Associação Cais promoveu, também neste âmbito, a conferência de Carlos Vasconcelos Cruz intitulada “Portugal Desigual”.
Ainda neste contexto, a Assistência Médica Internacional alertou para o constante aumento do número de pessoas que procuram os seus serviços. No primeiro semestre de 2008 recorreram ao apoio social da AMI 4.695 pessoas, o que corresponde a 64 por cento do ano anterior.
Pobreza está concentrada nos arredores das grandes cidades
As deliberações da Rede Europeia Anti-Pobreza foram entregues à Comissão Parlamentar dos Assuntos Constitucionais, Liberdades e Garantias. O vice-presidente da organização sustenta que Portugal, apesar de ter registado “uma baixa no número de pobres”, o país ocupa uma “posição muito desfavorável” no contexto europeu.
A presidente da Federação Portuguesa do Banco Alimentar Contra a Fome acrescenta que “as maiores bolas de pobreza estão concentradas nas zonas urbanas”. “Perto das cidades, as pessoas dependem quase exclusivamente dos seus salários para comerem e, em Portugal, tem-se verificado um fenómeno de desertificação do interior, com muitos idosos abandonados em zonas que há poucos anos eram cultivadas”, notou Isabel Jonet.
Em Braga, durante a inauguração do 14.º Banco Alimentar contra a Fome em Portugal, Isabel Jonet considerou que o problema mais grave que afecta a famílias do Norte do país é o desemprego, em virtude do fecho de várias fábricas.
Os voluntários de Braga querem, agora, reunir equipamentos para o armazém como “caixotes, um empilhador e um tapete rolante para se fazer a triagem dos alimentos nos dias de recolha”.