4.10.08

Economia perto de zero e desemprego em alta

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

A crise internacional levou o FMI a revisões sucessivas em baixa das previsões para a economia portuguesa. Em ano de eleições, o desemprego pode voltar a subir


Economia quase estagnada e desemprego outra vez a subir em 2009: a crise financeira e a deterioração da conjuntura internacional estão a forçar o Fundo Monetário Internacional (FMI) a rever em baixa, praticamente de semana para semana, as suas previsões para Portugal.

No relatório anual publicado ontem, os responsáveis do FMI colocaram a variação do PIB nacional em 0,7 por cento este ano e 0,6 por cento no próximo, valores bastante mais negativos do que os previstos há seis meses e mesmo que os previstos em Setembro (ver gráfico). No entanto, James Daniel, chefe da missão do FMI que esteve em Portugal, fez questão de avisar ontem, em declarações ao PÚBLICO, que nas Previsões de Outono, que serão apresentadas na próxima quarta-feira, as previsões serão ainda mais negativas. "Os números que aparecem no relatório foram calculados há uma semana. Entretanto, com os novos desenvolvimentos negativos, temos feito alterações substanciais às nossas estimativas para vários países, incluindo Portugal", afirmou. A nova alteração deverá ser, disse, "ligeira para 2008" e "substancial para 2009". James Daniel não quis precisar quais os novos números, mas adiantou que "Portugal, em 2009, tem de lutar para ficar em terreno positivo".

O aumento do pessimismo para Portugal está relacionado com o adensar da crise internacional e com o impacto que esta está a ter no país. No relatório publicado ontem, o Fundo diz que as revisões nas previsões se devem "à deterioração da conjuntura global, à subida dos preços das matérias-primas, ao euro mais forte e ao agravamento da turbulência financeira internacional". James Daniel destaca ainda o facto de "a situação em Espanha influenciar também de forma negativa aquilo que se passa em Portugal".

No entanto, não é só a crise internacional que limita o crescimento português. O chefe da missão do FMI revela que Portugal vai continuar a crescer menos que a média da zona euro e explica porquê: "As empresas, famílias e Estado têm estado sempre a consumir mais do que se produz e isso tem de parar. Portugal tem de passar por um período de poupança, que vai significar também menos crescimento." O relatório diz ainda que "na raiz dos problemas de Portugal está uma falta severa de produtividade".

Em declarações à Lusa, os responsáveis das Finanças reagem às novas previsões do FMI, destacando o papel da crise financeira no abrandamento nacional. "Tal como o ministro das Finanças tem dito, a economia portuguesa não estará imune a esta forte deterioração internacional, mas no momento próprio apresentará as suas previsões", disse fonte do ministério. Em Abril, quando o FMI apresentou uma previsão de crescimento para Portugal de 1,3 por cento, o ministro das Finanças tinha acusado o FMI de "pessimismo". Actualmente, as previsões do Governo estão situadas em 1,5 e dois por cento para 2008 e 2009, respectivamente. Também o ministro da Economia, Manuel Pinho, reagiu às previsões e, citado pela Lusa, considerou "natural" a previsão face à conjuntura internacional, adiantando que o crescimento do PIB está "a aumentar de ano para ano, assim como a criação de emprego".

Regresso do desemprego

Num cenário tão sombrio como o traçado pelo FMI, o mercado de trabalho acaba por sofrer. Segundo o relatório - levando ainda em linha de conta a previsão de crescimento de 0,6 e 0,7 por cento para 2008 e 2009 -, a taxa de desemprego, depois de uma descida durante este ano, deve voltar a subir em 2009, passando de 7,6 para 7,8 por cento.

Numa economia quase estagnada, como aquela que surge nas projecções do FMI, é natural que a criação de emprego se torne mais lenta, um cenário bastante desfavorável para o Governo em termos políticos em ano de eleições. E mesmo em relação aos últimos anos, o Fundo mostra pouco entusiasmo com a evolução do mercado de trabalho português. "O crescimento modesto do emprego não conseguiu manter o ritmo do continuado crescimento da força de trabalho, o que levou o desemprego a ultrapassar a média europeia", afirma o relatório.

O Fundo volta, neste relatório, a elogiar os resultados obtidos na redução do défice público. No entanto, pede às autoridades nacionais que mantenham o mesmo rumo, algo que reconhecem que será difícil.

Em primeiro lugar porque "o recente ritmo de crescimento das receitas fiscais não é sustentável". E depois porque o próprio Governo afirma, segundo o FMI, que "dois anos de desempenho acima do previsto têm de ser compensados face às pressões crescentes para responder à estabilização da economia no curto prazo e às preocupações de apoio social". O FMI pede, no entanto, que qualquer medida deste tipo seja sempre compensada com cortes na despesa.

1%
O Governo francês afirmou que o país está em "recessão técnica" nesta segunda metade do ano, após dois trimestres consecutivos com o PIB negativo. Em 2008 o PIB deverá crescer um por cento