5.10.08

Muitas vezes não é possível retirar rapidamente uma criança da rua

in Jornal Público

Detectar nas ruas da cidade "os jovens em risco que não são sinalizados" por nenhuma entidade. E ajudar a encontrar jovens que foram dados como desaparecidos por terem fugido de casa ou das instituições onde estavam acolhidos. São estas as duas primeiras missões do Projecto Rua do Instituto de Apoio à Criança (IAC).

No ano passado, a equipa de rua lidou com 75 casos; 42 diziam respeito a situações de fuga que lhes foram denunciadas; outros 33 menores foram encontrados durante os "giros de diagnóstico" semanais, onde nunca se sabe o que se vai encontrar. Problemáticas frequentes: prostituição (13 casos), mendicidade (sete). Já este ano, no primeiro semestre, a equipa lidou com mais 38 situações: 18 menores foram encontrados por acaso, nos giros, nove dos quais estavam em situação de mendicidade e quatro na prostituição.

"A problemática da fuga sempre coincidiu com a questão das crianças de rua. Uma fuga mal gerida pode dar origem a situações graves, prostituição, por exemplo", explica Matilde Sirgado, coordenadora do Projecto Rua. Uma vez localizados, o IAC procura perceber que problemas levaram os menores a sair de casa e encaminham-se os casos para as entidades competentes (como a Segurança Social). O Projecto Rua tem ainda equipas que intervêm directamente nalguns bairros e lidam com dezenas de jovens "em risco" (porque faltam à escola, ou já foram sinalizados por comissões de protecção, ou passam muito tempo na rua, mas têm casa e família). Um núcleo de formação oferece um curso a quem já não encontra resposta no ensino regular.

Com os jovens dos giros é mais difícil trabalhar. A esmagadora maioria dos 33 casos não foram sequer encaminhados para nenhuma entidade competente porque a equipa não conseguiu "dados suficientes". "Nem sempre se consegue tirar rapidamente um miúdo da rua. Mas sentimo-nos úteis. Com os giros conseguimos dados sobre as zonas, os ritmos, os locais, os adultos que estão por detrás", diz Sirgado. "Sabemos que esses dados podem ser úteis a quem os pode usar. A polícia, por exemplo, ou Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, com quem há articulação." A.S.