8.10.08

Pobreza e abandono escolar preocupam

Miguel Cunha, in Jornal Litoral Centro

Será que o leitor sabe mesmo a realidade do concelho em que vive? Falando de Águeda, é certo que não conhece casos de sobrevivência diária, que só são possíveis de ultrapassar com a ajuda de amigos ou mesmo instituições de acção social.

Casos que doem a alma, partem o coração e nos faz perguntar se vivemos assim tão perto de casos brutais. E, não, não são casos pontuais, são formas de vida que vemos diariamente, se calhar mais perto da nossa porta do que pensamos.

Na edição de 1 de Novembro de 2006, o Litoral Centro (LC) trouxe à estampa histórias tristes (não aquelas que muitos querem fazer crer e mostrar ao seu público, talvez porque não se olham ao espelho diariamente) de pobreza social no concelho de Águeda.
Numa altura em que a Câmara Municipal de Águeda acaba de apresentar o diagnóstico da rede social do concelho, fomos verificar que os casos conhecidos há quase dois anos, continuam por resolver, mas também tivemos a preocupação de conhecer outros.
Na freguesia de Macinhata do Vouga, um casal de crianças "enfrenta" a falta de sensibilidade da sua mãe, que já se encontra a ser acompanhada pelos serviços sociais da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), Núcleo de Águeda. A menina, de dez anos, frequenta a escola C+S de Valongo do Vouga, mas tem um grave problema para ultrapassar: está em risco de abandono escolar, porque tem faltado a muitas aulas desde o início do ano lectivo. Curioso é que a jovem adaptou-se bem aos companheiros de turma e gosta da escola, mas não está a aceitar uma forma de ensino diferente daquele que teve nos primeiros quatro anos. "Ela pode não gostar de estudar, mas isso é diferente, pelo que compete-nos dar a volta à situação", diz a técnica da Cruz Vermelha que acompanha o caso, revelando que "a menina pode estar a ter dificuldades de adaptação, mas desculpar-se com dores de barriga para não ir à escola é que não entra na cabeça de ninguém".

Os responsáveis da Cruz Vermelha já tiveram contactos com a escola e o médico de família, que dizem estar "tudo bem com o estado de saúde", enquanto a mãe nos diz que "se lhe dói a barriga, não a posso obrigar a ir à escola".

Nota-se, neste caso, um grande desleixo por parte da encarregada de educação, que vive com um companheiro, que não é o pai dos seus filhos.

"O que nos surpreende também é que a directora de turma nos diz que a menina parece ser inteligente, mas como não tem o apoio da mãe (tem 37 anos), não está a importar-se com a escola", refere a técnica da CVP, que tem elementos destacados para ligarem às escolas durante o ano lectivo, tentando saber se existe algum caso anormal e, neste aspecto, há que elogiar as respostas dos Conselhos Executivos de todos os estabelecimentos de ensino, que colaboram de forma assídua.

A CVP já está a preparar um plano de intervenção junto da família, para evitar mais um caso de abandono escolar. Por ano, a instituição resolve mais de uma dezena de casos deste tipo, evitando o abandono precoce do ensino pelos jovens, que vão sendo sensibilizados por acções desenvolvidas pela CVP. "No caso da mãe, também já está a frequentar acções de sensibilização na nossa sede, com o objectivo de tentar proteger os seus filhos", diz a técnica, acrescentando: "No caso do menino, com três anos, ela não o leva para a creche onde está inscrito porque diz que é a companhia dela durante o dia, não se importando se é, ou não, o melhor para ele".