in Jornal Público
Cerca de um terço das Pequenas e Médias Empresas (PME) não pagaram o subsídio de férias aos trabalhadores e temem não conseguir atribuir o de Natal, deixando milhares de famílias em dificuldades, revelou o presidente da Associação Nacional das PME.
De acordo com Augusto Morais, a eficiência da máquina fiscal e o medo de ver os bens penhorados por atraso no pagamento dos impostos e das contribuições para a Segurança Social fez com que as empresas com maiores dificuldades financeiras prefiram, primeiro, saldar as contas com o Estado do que pagar os salários aos funcionários, o que não acontecia "até há dois anos".
"Se uma empresa ficar a dever um ou dois meses ao Estado, porque se atrasa no pagamento da Segurança Social e no fisco, o fisco imediatamente lança-se contra a empresa. O que quer dizer que a encerra ou a pode encerrar através das penhoras. Por isso, o empresário prefere pagar os impostos a pagar aos trabalhadores e eles, como não têm outra solução senão esperar, vão esperando", explicou o responsável.
Augusto Morais estima que mais de 30 mil trabalhadores estejam nesta situação, que agrava as dificuldades económicas das famílias, obrigando-as a "atrasar o pagamento das prestações da casa e até a outros atrasos."
Em declarações à Lusa, o inspector-geral do Trabalho, Paulo Morgado de Carvalho, confirmou que têm sido detectados mais trabalhadores com salários em atraso, tendo igualmente crescido as denúncias relativas a essa situação. "Temos um número mais significativo de situações do que as que verificávamos no passado, mas isso também decorre de uma acção mais insistente da nossa parte. Não posso concluir que as empresas deixaram de pagar [os salários] por qualquer fenómeno como a crise económica. Limito-me a dizer que detectamos mais", afirmou o responsável.