Susana Otão, in Jornal de Notícias
Por que é que os abusadores sexuais de crianças cometem abusos? Como actuam? Estas e outras questões estão em discussão num seminário em que se analisa ainda o facto de os abusadores serem cada vez mais jovens.
"É mais importante trabalhar com os abusadores do que trabalhar com as vítimas". A afirmação de Tilman Fürniss, pedopsiquiatra alemão e orador do seminário de formação sobre abusadores de crianças, que decorre até sábado no auditório dos serviços sociais da Câmara Municipal de Lisboa, agitou a sala. Mas a explicação convenceu: "É um acto preventivo. Se trabalharmos com os abusadores, vamos evitar que existam mais vítimas", afirmou, para destacar que quanto mais tempo trabalha com abusadores sexuais de crianças, mais se apercebe que eles têm de ter atenção. "Não podemos colocá-los fora da sociedade. Temos é de conseguir que não façam mais vítimas", avançou.
O orador, presidente do departamento de psiquiatria da criança no hospital de Münster, na Alemanha e há 30 anos a estudar o assunto, aceitou o repto da Associação de Mulheres Contra a Violência e durante três dias irá responder às questões dos profissionais que trabalhem com crianças e lançar a discussão sobre um tema que considera "preocupante".
Na sua intervenção, o pedopsiquiatra defendeu que os abusadores sexuais de crianças são cada vez mais jovens e que, na sua maioria estão inseridos no contexto familiar e social. "O comportamento não começa de repente. Vem a revelar-se e por vezes os primeiros sinais aparecem na infância", afirmou. Para sustentar, relatou um estudo, realizado pela sua equipa, que analisou duas mil crianças com idades até 5 anos. Nesse estudo 12% dessas crianças já manifestaram problemas de cariz psiquiátrico com necessidade de intervenção. "É impressionante", realçou.
E como se cura um abusador? "Tratar de um abusador não é fácil. Eles não são estúpidos. Enfrentar o que fizeram é difícil e muitas vezes entram em negação", referiu Tilman Fürniss.