Ana Cristina Pereira, in Jornal Público
Portugal ainda é o país da União Europeia com maior número de novos casos de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH), mas a realidade está a alterar-se. Em seis anos, o peso de toxicodependentes no total de novos casos diagnosticados em Portugal desceu para mais de metade.
O comparativo está no Relatório Anual 2007 - A Situação do País em Matéria de Droga e de Toxicodependência. No ano passado, os casos de VIH associados à toxicodependência representavam 22 por cento do total. No ano anterior, 27; em 2005, 32; em 2004, 31; em 2003, 35; em 2002, 40; em 2001, 46.
Se analisarmos apenas os casos de sida, também encontramos uma redução assinalável. No ano passado, 30 por cento dos doentes notificados eram toxicodependência. No ano anterior, 38 por cento; em 2005, 43; em 2004, 40; em 2003, 43; em 2002, 49; em 2001, 54.
O cenário permanece negro. A 31 de Março havia 33.134 notificações de infecção, 44 por cento associados à toxicodependência. "Continua a ser Lisboa, Porto e Setúbal os distritos com maior peso nas notificações do total de casos de sida (respectivamente 41 por cento, 23, 14) e de casos de sida associados à toxicodependência (39, 32, 14, respectivamente)", refere o documento divulgado na quarta-feira na Assembleia da República.
O país sobressaía no relatório do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência apresentado na semana passada. Os 703 novos casos de infecção contrastavam com os 187 e os 168 contabilizados em países de maior dimensão como o Reino Unido e a Alemanha.
"Somos dos países com menos consumidores de drogas ilícitas", salienta João Goulão, presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência. Em compensação, "somos dos países com mais consumidores problemáticos". A estratégia de prevenção arrancou mais ou menos ao mesmo tempo. Só que o ponto de partida português, em matéria de VIH, era muito superior.
"Temos feito um esforço de diagnóstico mais proactivo", através das equipas de rua e dos centros de respostas integradas, sublinha. "Temos um rastreio universal ou tendencialmente universal" entre os utilizadores de drogas e "isso acrescenta realismo aos dados apresentados". Espanha e Itália, que também têm muitos consumidores problemáticos, não revelam estes dados.
Em 2001, os casos de sida associados ao consumo de drogas eram 46 por cento do total dos novos casos.