14.11.08

Pobreza dos ciganos exige “multiplicidade de soluções”

in Diário de Coimbra

A Subcomissão de Igualdade de Oportunidades e Família visitou ontem diversos acampamentos ciganos na região (em Leiria, Figueira da Foz e Montemor-o-
-Velho) e concluiu a existência de realidades distintas em todos eles. A pobreza assume-se como factor comum, mas «ela própria diferente entre as comunidades», concluiu a presidente da Subcomissão de Igualdade de Oportunidades e Família. «Não há situações idênticas nas comunidades», explicou Rosário Carneiro, durante a reunião no final das visitas, na Câmara de Montemor.

No concelho de Montemor, a Subcomissão de Igualdade de Oportunidades e Família visitou um dos dois acampamentos de Arazede e ainda “espreitou” o acampamento de Montemor e antes, em Leiria e Figueira da Foz, conheceu a realidade das comunidades ciganas locais. Apesar da pobreza, em Arazede há «limpeza e organização», disse Rosário Carneiro, para exemplificar a diversidade de situações dentro de uma mesma etnia. A realidade é, por isso, «multifacetada», reconheceu, exigindo-se naturalmente «uma multiplicidade de soluções».

As conclusões ontem retiradas das visitas surgem ao fim de seis meses de trabalho, em que a Subcomissão de Igualdade de Oportunidades e Família ouviu todos as partes envolvidas na tentativa de integração das comunidades ciganas. «Começámos por ouvir os ciganos», explicou a presidente, para então se passar à audição de representantes de projectos que trabalham nesta área, representantes da Administração Central, investidores e autarcas. Ao fim deste tempo a conclusão é a de que há ciganos integrados, mas são uma pequena minoria. «Há muitas fragilidades na habitação e na educação», exemplificou.

Prioritário investir na educação

As três comunidades ciganas existentes no concelho de Montemor (em Vila Franca, Volta da Tocha e Montemor) espelham esta conclusão. «É um dos grupos minoritários que atravessam situações sociais mais complicadas», disse Marta Santos, da Associação Fernão Mendes Pinto, defendendo uma maior aposta em «projectos de alojamento» complementados com «projectos de inserção». «É necessário um acompanhamento até haver, de facto, autonomia», afirmou.
A directora do Centro de Saúde de Montemor, por seu lado, defendeu a realização de um projecto conjunto com outras estruturas – escolas e autarquia, por exemplo – tendo como público-alvo os mais jovens ciganos. Um projecto que, explicou Manuela Neto, passaria por melhorar as condições de alimentação das crianças ciganas e investir na educação e formação. «Eles não procuram apoio porque não têm cultura para o procurar», justificou, considerando, por isso, «prioritário» investir na formação.

Apesar disso, é na área da educação que mais se tem feito no concelho em prol da comunidade cigana. Pelo menos segundo o presidente da Câmara de Montemor que ontem, reconhecendo que é necessário fazer bastante mais, afirmou que a autarquia tem trabalhado no sentido de proporcionar educação a todas as crianças ciganas. Mas «nem sempre é fácil», reconheceu Luís Leal, defendendo um esforço conjunto entre todas as entidades no sentido de uma melhor integração destas comunidades.

Depois destas de outras visitas, a Subcomissão de Igualdade de Oportunidades e Família, da Comissão Parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura da Assembleia da República, pretende reunir um conjunto de informações que integrarão um relatório que poderá servir como elemento de trabalho para a elaboração de futuras iniciativas legislativas e políticas relativamente a esta comunidade.