in Lusa
As novas formas de rastreio e cura da lepra no mundo e o aumento das situações de pobreza em Portugal são temas do I Congresso internacional da Associação Portuguesa Mãos Unidas, que decorre este fim-de-semana em Lisboa.
Organizado pela secção portuguesa da Associação Mãos Unidas Padre Damião, vocacionada para a ajuda humanitária, nomeadamente na área de "doenças de pobreza", como a lepra, o congresso vai abordar, com a colaboração de três leprólogos, a forma de agir e de contribuir contra as doenças tropicais.
O número de casos de lepra está a descer acentuadamente em todo o mundo devido a melhores rastreio e medicamentos, contudo há países onde a doença continua a prevalecer, disse à Lusa Mário Nogueira, fundador da Associação Portuguesa Mãos Unidas.
Se em Portugal a doença está controlada, estimando-se que haja apenas entre 30 a 40 casos, relacionados com pessoas provenientes de países como Angola, Moçambique ou Timor-Leste, a situação é ainda endémica em países como a Índia e o Brasil, os dois países com mais casos.
Contudo, admite Mário Nogueira, o número de casos da doença está, na maior parte dos países, a "diminuir acentuadamente", graças a um melhor acompanhamento e a fármacos mais eficazes.
Mesmo assim, subsistem países com um número elevado de casos e onde os doentes não estão identificados nem localizados.
Estima-se a existência de 5 a 6 milhões leprosos em todo o mundo, sendo que quatro milhões estão em tratamento.
Para resolver este problema, a Federação Internacional Contra a lepra (ILEP) e o Cercle de Solidarité Follereau-Damien, entidade internacional de associações dirigidas para a questão da lepra, estão a desenvolver novos projectos, como a detecção de novos casos por satélite.
"A detecção de novos casos de Lepra, via satélite, é sem dúvida uma nova porta que se abre na luta contra a Lepra, o que permitirá diagnosticar, tratar e curar milhares de leprosos", disse à Lusa Mário Nogueira.
Explicou que este método permite localizar doentes de lepra que jamais seriam possíveis de descobrir, alcançando os "lugares mais recônditos".
O reconhecimento das pessoas atingidas faz-se através da detecção de deformações e formas de caminhar suspeitas, explicitou ainda a fonte.
Este rastreio da lepra está a fazer-se sobretudo em países com índices elevados da doença e com falta de meios de comunicação, como o Brasil, Índia e China.
Além da questão da lepra, este congresso vai ainda debater "A luta contra a fome e a pobreza em Portugal".
Mário Nogueira justificou a introdução deste tema no I congresso, visto que os pedidos de ajuda, nomeadamente de assistência social, recebidos pela associação, têm vindo a aumentar.
A Associação tem "institucionalizados" há dois anos quatro centros alimentares, em Carregal do Sal e Santa Comba Dão (distrito de Viseu), Leiria e Porto e está entretanto a criar mais dois, em Bragança e Setúbal.
Nestes centros tem-se se registado um aumento de procura "acentuado" de mês para mês, referiu, adiantando que, por exemplo, em Carregal do Sal a ajuda passou de 20 pedidos de ajuda por mês, há dois meses, para os actuais 120.
No Congresso vai ser lançado um livro sobre o Padre Damião, que permaneceu nove anos na ilha do Hawai, em Março de 1873, tendo-se oferecido voluntariamente para ir assistir os leprosos que então eram deportados para a ilha do Molokai - considerada a Colónia dos Leprosos.
Será também atribuído o Prémio Internacional Follereau-Damien ao bispo emérito de Lichinga, Moçambique, D. Luís Gonzaga Ferreira da Silva.
Este bispo está há mais de 50 anos em Moçambique, como missionário e combatente na luta contra a lepra.