Isabel Teixeira da Mota, in Jornal de Notícias
Conferência União Europeia procura enquadramento para as associações de apoio
A pobreza infantil está a crescer na Europa, mas as políticas não são sensíveis ao fenómeno. Palavras de Vieira da Silva, que participou numa conferência europeia sobre crianças de rua a decorrer em Lisboa.
O ministro do Trabalho e da Solidariedade Social reconheceu ontem que a pobreza infantil atingiu níveis críticos na Europa perante a insensibilidade das políticas europeias. Falando no Forum Europeu sobre Crianças de Rua, que começou ontem e acaba hoje na Assembleia da República, Vieira da Silva sublinhou que "a dimensão social tem sido menosprezada nas políticas europeias".
O mesmo reconheceu Anthony Simpson, da direcção da Federação Europeia de Crianças de Rua, estimando que existam entre 150 mil e 200 mil crianças a viverem sem tecto.
O presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, Lino Maia, destacou que em Portugal os números também não são animadores e sustentou que "o apoio ao esforço de ajuda da sociedade civil não é ainda suficiente, apesar de ser muito significativo". Segundo os dados de que dispõe, 70% das intervenções neste campo decorrem da iniciativa privada solidária, cerca 50% das quais ligadas a instituições da Igreja Católica.
São perto de 16 mil as crianças abrangidas por este tipo de apoios em instituições que na maior parte das vezes recebem as crianças em regime de internato.
"Quando se fala em transferência de competências para estas instituições é importante que se continue a apoiar este tipo de iniciativas", disse ao JN. "O Estado deve continuar a estimular e a apoiar a iniciativa privada solidária", realçou.
Estima-se que uma em cada cinco crianças portuguesas se encontre em risco de pobreza. Os dados constam do relatório da Comissão Europeia sobre a protecção social e inclusão, adoptado em Fevereiro pelos ministros do Emprego da União. Portugal surge no grupo dos oito países da União com os níveis mais elevados de pobreza na infância, apenas ultrapassado pela Polónia.
A presidente do Instituto de Apoio à Criança, Manuela Eanes, defendeu que "só com políticas governamentais adequadas e projectos de intervenção comunitária se poderá fazer um trabalho coordenado entre as várias instituições, oficiais e particulares".