7.10.08

Saiba de que precisa para reagir à crise financeira

David Almas, in Jornal de Notícias

Conheça as respostas para as perguntas do momento


Não é vulgar os índices bolsistas desvalorizarem 10% num dia. Não é normal mais de 10 bancos internacionais desaparecerem num ano. Situações anormais exigem respostas. Saiba quais são as certas para o seu dinheiro.

O meu banco corre o risco de falir?

Sim, se ele estiver muito exposto aos segmentos mais tóxicos do mercado, especialmente aos produtos estruturados ligados ao mercado hipotecário estado-unidense. Porém, não deve ter insónias com a possibilidade do seu banco falir. Primeiro, porque o governo e as instituições financeiras mais sólidas devem correr em socorro (leia-se: devem adquirir o banco em dificuldade) se algo acontecer, uma vez que têm todo o interesse em que o sistema financeiro não seja abalado. Isso já aconteceu no estrangeiro: o Bank of America absorveu o Merrill Lynch, o governo de Sua Majestade comprou o Northern Rock, os governos do Benelux salvaram o Fortis, entre muitos outros casos. Segundo, mesmo que o seu banco vá à falência, a maioria dos seus activos estão bem guardados: os depósitos são garantidos até um determinado limite (veja a resposta seguinte) e os fundos e os planos de reforma são seus, logo, mesmo na falência, o banco não pode mexer nesses activos.

Tenho depósitos a prazo. Devo mantê-los?

Há quase 16 anos que os depósitos bancários estão garantidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos. Assim, se o seu banco falir tem direito a receber um máximo de 25 mil euros. Esta garantia é por depositante e por instituição, isto é, se a conta tiver dois titulares, a garantia sobe para 50 mil euros. Da mesma forma, se tiver 2 contas em nome individual no mesmo banco com 20 mil euros cada, apenas tem direito a receber 25 mil euros. Se for cliente de um banco com mais de 25 mil euros, distribua o excesso por outras instituições financeiras. Só assim fica completamente garantido.

Os certificados de aforro são recomendáveis neste momento?

Sim, se acreditar que a República Portuguesa está longe da falência. Por definição, os certificados de aforro não têm risco, uma vez que representam a dívida do Estado. Contudo, isso não quer dizer que não tenham um bom rendimento: para Outubro, a taxa de juro de capitalização, que está indexada à Euribor a 3 meses, é de 4,011%.

Tenho um PPR. Com a queda das bolsas, o meu investimento está garantido?

Alguns planos de poupança-reforma têm garantia de capital e alguns garantem inclusivamente uma taxa de rendibilidade mínima. Excluindo esses casos, não há qualquer garantia. É possível encontrar PPR, como o Millennium Reforma & Rendimento, a ganhar mais de 4% no último ano e outros, como o Barclays PPR Acções Life Path 2025, que perdem mais de 20%. Para os investidores longe da reforma não há muito a fazer, porque seriam muito penalizados pelo fisco se abandonassem o barco. Se acreditar que o dinheiro não está a ser bem gerido, a única opção é transferir o PPR para outra instituição, embora isso represente uma pesada comissão.

Investi em acções. Ainda posso perder mais dinheiro do que até hoje?

Sim, no limite pode perder todo o dinheiro, mas isso só acontecerá se todas as sociedades de que é accionista entrarem em falência. Nos dois anos após a Grande Depressão, por exemplo, as acções norte-americanas desvalorizaram 79%. Porém, os académicos explicam que uma estratégia de longo prazo de investimento progressivo em acções é correcta: entre 1900 e 2007, as acções mundiais renderam 5,8% a mais do que a inflação. Isto é, se a inflação se fixar nos 3%, pode esperar ganhar mais de 8% por ano numa estratégia de longo prazo.

Tenho fundos de investimento e estou a perder dinheiro. É boa ideia vender antes que as bolsas caiam mais?

Depende. Se está a prosseguir uma estratégia de longo prazo de investimento periódico, deve continuar a investir. Isso é especialmente importante nesta altura, porque é natural que esteja a fazer compras a preços de saldo. Se tem fundos de investimento numa óptica de curto prazo, então pode ponderar sair. Contudo, perceba que ninguém sabe exactamente quando é que os investimentos bateram no fundo. Se calhar a recuperação está já ao virar da esquina...

Esta é uma boa altura para investir em bens alternativos, como o ouro ou o imobiliário?

Esqueça o imobiliário por agora: foi por causa dele que esta crise nasceu. O maior investimento que a maioria das famílias tem é a própria casa. Não faz sentido adquirir ainda mais exposição, em especial porque já há indicações de que o mercado está em queda, à semelhança do que acontece nos EUA, no Reino Unido e em Espanha. O ouro é apenas uma forma de proteger o capital, uma vez que não gera riqueza por si (uma barra de ouro será sempre uma barra de ouro, não cresce como uma empresa). Pode ser um bom activo para ficar de lado à espera de uma melhor altura de regressar ao mercado. Se quiser uma exposição ao ouro sem ter de o levar no bolso ou ao pescoço, compre um fundo cotado que replique a performance do metal amarelo, como o Lyxor Gold Bullion Securities, que pode ser adquirido como se fosse uma acção na bolsa de Paris. Uma unidade deste fundo representa três gramas de ouro.