17.10.08

Dia internacional para a erradicação da pobreza - 180 mil receberam bens

João Saramago/S.C./ A.M.R./J.C.M., in Correio da Manhã

Após um ano de actividade o Banco de Bens Doados chega a 180 mil pessoas carenciadas, através da entrega a instituições sociais de material cedido pelas empresas. Foram mais de dois milhões de objectos distribuídos a 900 instituições do País, a partir do armazém, existente na Quinta do Cabrinha, em Lisboa.

O recurso ao Banco de Bens Doados obriga a que o ritmo de entregas seja fornecido a duas instituições a cada meia hora, das 10h00 às 17h30. Excepção de terça a quinta em que é a vez das empresas descarregarem produtos para serem dados. Detergentes e alguns brinquedos foram os materiais que João Duarte, vice-presidente da Conferência de São Vicente de Paulo em São Domingos de Rana (Cascais), recolheu na última quarta-feira.

'Assistimos 480 famílias que vivem em bairros como as Marianas e Fim-do-Mundo [ambos no concelho de Cascais] e que têm carências de um pouco de tudo', disse ao CM. 'Um dos produtos muito apreciados são candeeiros porque são pessoas que só têm dinheiro para as lâmpadas', referiu.

Uma hora mais tarde, foi a vez do Centro Social da Musgueira, em Lisboa, recolher a sua palete de detergentes e produtos de higiene pessoal. Ana Barata, directora do centro explica que 'em 2001 a população do bairro viu o problema de viver em barracas resolvido, mas continuam a precisar de ajuda'.

'Temos cem crianças no jardim de infância, 60 idosos no centro de dia e prestamos apoio domiciliário. Só com a comparticipação da Segurança Social não conseguimos sobreviver', disse.

Assinalado hoje o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, o Banco de Bens Doados associa-se à Câmara de Lisboa numa campanha de recolha de bens que serão distribuídos na próxima semana às associações mais necessitadas. Segundo Marília Dias, da autarquia, o 'mais importante é a doação de material informático e electrodomésticos de grande e pequeno porte' por serem os bens mais difíceis de comprar.

DEBATE ALARGADO NO PORTO

Nos 50 anos do Dia Internacional de Erradicação da Pobreza, em que se assinalam também os 25 anos da lei das IPSS e os 120 anos do nascimento do padre Américo, a Fundação Filos realiza uma jornada alargada de reflexão. De manhã, o antigo ministro Silva Peneda fala sobre a subsidiariedade e as funções do Estado nas políticas sociais e de tarde, Guilherme de Oliveira Martins, presidente do Tribunal de Contas, disserta sobre a cidadania, inclusão e combate da pobreza. No final, vai ser lançado o ‘Movimento Comunidades de Vizinhança (MCV)’, cujas directivas de acção serão apresentadas a 26 de Maio de 2009, Dia Internacional do Vizinho.

NÚMEROS

50 mil euros por ano. Valor das despesas correntes do Banco de Bens Doados financiadas pelo programa Urban II.

30 voluntários, 40 visitadores (pessoas que verificam necessidades nas instituições), 3 assalariados e 2 temporários formam equipa.

900 instituições de todo o País recolhem bens no Banco para carência de funcionamento ou para entregarem a particulares.

MARIANA SARAIVA, COORDENADORA DO BANCO DE BENS DOADOS: 'SÓ DAMOS E RECEBEMOS COISAS DE BOA QUALIDADE'

Correio da Manhã – Que artigos recebem?

Mariana Saraiva – Tudo o que recebemos é entregue por empresas e são coisas novas de boa qualidade. Recebemos detergentes, produtos de higiene pessoal, vestuário, material informático, electrodomésticos, mobiliário. São, por exemplo, restos de colecções entregues por cadeias de hipermercados. A única excepção de artigos em segunda mão é material informático, electrodomésticos, mobiliário de escritório e doações de hotéis.

– Como é que as pessoas podem receber?

– Não trabalhamos directamente com os particulares. As pessoas estão inscritas em instituições de apoio social que levantam os produtos.

– Como é que uma pessoa pode dar, por exemplo, um televisor?

– Entre em contacto connosco, por exemplo pela net, em www.bancodebensdoados.pt. Fazemos então a chamada Doação Directa, em que é estabelecido contacto entre a pessoa e a instituição que precisa de um televisor.

É PRECISO ABRIR OS OLHOS

Foi a gravidez, inesperada, da sua irmã que inspirou Celso Guerra, isto é, ‘Malabá’, para escrever ‘Filho Bastardo’, canção que apresentou a concurso e para a qual sempre teve expectativas elevadas. 'Sabia que era um bom som, e quando surgiu a hipótese de o enviar a concurso, não hesitei', explica quem veio propositadamente de Londres, onde trabalha numa fábrica de chocolates, para participar na final de Gondomar.

Juntamente com Paulo Mendes, ou ‘Maguilla’, co-autor do tema, confessa-se apaixonado por música e ambos alimentam o sonho de, um dia, dirigir a sua própria editora e mostrar 'como em Portugal há muita gente que faz boa música'.

Da violência do tema fala ‘Maguilla’. 'É preciso abrir os olhos das pessoas e bombardeá-las com mensagens positivas', diz. 'A violência é uma forma de chamar a atenção. Mas não basta apresentar problemas: é preciso apontar soluções.'

JÁ PINTOU PARA MARISA CRUZ

Ricardo Quintela, de 25 anos, faz do graffiti a sua vida profissional, que há pouco tempo o levou a fazer uma pintura na loja de roupa da modelo e apresentadora Marisa Cruz. Quanto ao seu estilo, afirmou ao CM que pretende 'chocar'.

Para fazê-lo, recorre às cores. 'A pintura que mais me deu prazer foi a de uns amigos meus que já não estão cá', revela Ricardo.

UM PIONEIRO DO GRAFFITI

Já lá vão vinte anos desde as primeiras pinturas nas paredes. Nessa altura era tudo muito novo, pouco divulgado. 'Fui dos cinco primeiros a pintar em Portugal. Juntamente com amigos na escola de Carcavelos. Era tudo muito mais difícil, havia duas revistas que vinham de fora. Agora não, com a internet toda a gente tem acesso a tudo', diz Adalberto Brito, de 34 anos.