1.10.08

Dois terços dos idosos internados em lares e hospitais perderam peso nos últimos meses

Alexandra Campos, in Jornal Público

Metade das pessoas inquiridas em rastreio nacional diz que come, no máximo, apenas metade de um prato da refeição principal


Mais de dois terços dos idosos internados em lares e hospitais - inquiridos no âmbito de um rastreio nacional para a avaliação do seu estado nutricional - afirmaram ter perdido peso nos últimos três a seis meses. Em média, perderam cerca de nove por cento do seu peso, o equivalente a cerca de seis quilogramas num indivíduo com 65 quilos. Um terço do total apresentava um índice de massa corporal (IMC) abaixo do normal e cerca de metade admitiu que come, no máximo, metade de um prato da refeição principal.

São as conclusões principais de um rastreio efectuado não só em lares e hospitais, mas também em farmácias, e que hoje vai ser apresentado em Lisboa. Patrocinado pela empresa Nutricia Advanced Medical Nutricion e realizado com a colaboração da European Nutrition for Health Alliance (ENHA) e a Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica (APNEP), o estudo permite perceber que são as pessoas com baixo peso as mais afectadas por este fenómeno. Entre Março e Junho, foram inquiridos 2221 indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos, 64 por cento do sexo feminino.

A maior parte dos questionários foi preenchida em farmácias e, neste contexto, a média do IMC encontrada foi mais elevada. Como seria de esperar (há vários estudos internacionais e nacionais que apontam para o problema da malnutrição) foi nos hospitais e nos lares que se encontraram os dados mais preocupantes. Basta olhar para os números: nos hospitais mais de metade dos idosos inquiridos tinha baixo peso, enquanto nos lares esta percentagem baixava para 42 por cento e na comunidade se ficava pelos 27 por cento. No total, em média, metade dos idosos apresentava um peso normal, um terço tinha baixo peso e apenas 18 por cento excesso de peso.

Os dados não surpreendem Teresa Amaral, da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto e da ANPNEP, que coordenou e participou em vários estudos sobre o estado nutricional em idosos hospitalizados e na comunidade. Este estudo vem demonstrar que o problema da desnutrição "é um iceberg do qual vemos apenas o topo", diz. A malnutrição aumenta o risco de complicações infecciosas, tempo de internamento e até as taxas de mortalidade dos doentes.

Sublinhando que a desnutrição nesta faixa etária é "uma situação largamente prevenível e tratável" e que a maior parte dos procedimentos relacionados com a prevenção e tratamento "são simples e de baixo custo", a especialista destaca a necessidade de sensibilizar os profissionais de saúde para a importância da monitorização da alimentação e do estado nutricional dos idosos.