CÉLIA MARQUES AZEVEDO, E JOÃO PAULO MADEIRA, in Jornal de Notícias
Iniciativa vai ser discutida em reunião de alto nível no sábado. Comissão aprovou ontem medidas conjuntas
A Europa deu esta quarta-feira um passo conjunto no combate à crise financeira, ao aprovar medidas de maior controlo sobre os créditos bancários. A França propõe a criação de um fundo para evitar falências de bancos.
As novas medidas no crédito bancário foram ontem anunciadas pela Comissão Europeia (CE) e visam reforçar a supervisão bancária e o controlo de risco. A comissão defende uma revisão das regras bancárias relativas aos fundos próprios dos bancos, de forma a reduzir a exposição ao risco.
Caso seja aceite - ainda terá de ser aprovada pelos governos europeus e pelo Parlamento Europeu -, a medida vai implicar novas restrições em créditos acima de determinados montantes. No mercado interbancário, os bancos não poderão conceder empréstimos nem colocar capital noutros bancos acima dos limites estipulados.
O presidente da CE, Durão Barroso, voltou a insistir numa "resposta europeia conjunta" que deverá ser dada de forma "articulada entre os governos dos estados-membros, as instituições europeias e os reguladores" dos mercados, no sentido de lhes devolver "estabilidade e confiança".
Aos meios já disponíveis, referiu, juntou-se agora mais um, que retringe os investimentos dos bancos europeus, "para além de certos limites", em produtos de alto risco, com o objectivo de evitar o efeito de contágio provocado pelos activos tóxicos dos créditos hipotecários com origem nos EUA.
O presidente da CE (ver texto ao lado) voltou a dizer aos Estados Unidos que têm de "assumir as suas responsabilidades" e tomar uma "decisão rápida" sobre o chamado Plano Paulson, "para bem de todos". "Estamos a enfrentar uma crise, mas temos meios para a ultrapassar e vamos fazê-lo em cooperação com os nossos principais parceiros globais", concluiu Durão Barroso. A França, que ocupa actualmente a presidência europeia, está a organizar uma cimeira sobre a conjuntura financeira internacional, que vai juntar as autoridades dos quatro países europeus que integram o G8 e os presidentes da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Eurogrupo.
Prevista para sábado, a cimeira promovida por Sarkozy irá debater propostas para planos de intervenção no sistema financeiro. A France Presse avançava ontem que haveria uma proposta de um plano de 300 mil milhões de euros para acudir a bancos em colapso, uma informação que foi mais tarde desmentida pelo Governo de Paris.
Certo é que, em entrevista ao diário económico alemão "Handelsblatt", a ministra francesa da Economia, Christine Lagarde, admitiu, sem avançar montantes, que a França irá apelar, na cimeira de sábado, à criação de um fundo à escala europeia para evitar falências de bancos.
A ministra adiantou que os participantes na reunião de sábado deverão abordar o financiamento do fundo para decidir se será constituído através do orçamento europeu ou directamente através dos estados-membros.
Caso houvesse fundamento no plano de salvação de 300 mil milhões de euros, este contaria, desde logo, com a oposição da Alemanha, de acordo com um porta-voz do Ministério alemão das Finanças. "A Alemanha não pensa nada de bom de tal plano", afirmou o porta-voz, citado pela AFP.
A chanceler alemã, Angela Merkel, já havia referido, numa entrevista ao "Bild", que o seu Governo "não pode nem pensa em passar cheques em branco aos bancos, quer estes se tenham comportado de maneira responsável quer não". "É necessário pôr em evidência a responsabilidade dos que originaram este crise", acrescentou.
Na Rússia, o entendimento é semelhante. O primeiro-ministro, Vladimir Putin, acusou ontem as autoridades norte-americanas de serem "incapazes" de tomar as medidas necessárias, aludidndo à "irreponsabilidade" de um "sistema que quer ser líder mundial".
A discussão sobre os passos a tomar para combater a crise tem sido alvo de intenso debate também em Portugal. Ontem, no Parlamento, o Governo foi alvo de críticas por parte da Oposição. Jerónimo de Sousa, do PCP, criticou o Governo por se "limitar a estar atento" sem "nada fazer". Miguel Frasquilho, do PSD, acusou o primeiro-ministro de ignorância sobre o sistema financeiro ao falar em jogo e de mostrar não perceber a crise ao responsabilizar os EUA.