17.10.08

Mercado é a solução para a crise financeira

Rui Boavida* , in Jornal de Notícias

Moahamad Yunus, o banqueiro que recebeu em 2006 o prémio Nobel da Paz, defende a criação de mecanismos próprios no mercado para evitar, no futuro, crises financeiras semelhantes à actual.

Yunus, o antigo professor de economia que criou em 1976 o Banco Grameen para conceder aos pobres os microcréditos que os bancos clássicos lhes recusavam, afirmou que a criação de empresas correctoras de "activos tóxicos" pode vir a ser uma forma de prevenir crises como as actuais, em que os bancos recusam emprestar dinheiro entre si por não confiarem na liquidez uns dos outros.

"É uma situação de desastre," disse Yunus à agência Lusa, reconhecendo que, sem mercado interbancário, a única solução é a intervenção dos governos. Algo que, afirmou, nunca mais se deveria repetir.

"Agora já não há mercado. Não podemos dizer que o mercado tem de resolver. Não há mercado. O único mecanismo que sobra, a única autoridade que sobra são os governos," afirmou.

O "banqueiro dos pobres", como Yunus é conhecido, defendeu por isso que o mercado tem de ser capaz de comprar os "activos tóxicos", em vez de se virar para o governo em tempos de crise e evitar situações como o "Plano Paulson" nos Estados Unidos, em que o Estado vai investir 700 mil milhões de dólares.

"Porque é que o mercado não compra todos os dias os activos tóxicos, em vez de serem os governos a fazê-lo? Porque é que não há empresas que comprem esses activos e depois os vendam, cobrando uma taxa de corretagem?", interroga Yunus.

"Seriam mecanismos existentes no próprio mercado. É o mercado que tem de o fazer. Não se pode pedir aos governos, caso contrário não faz sentido a existência do mercado. É o mercado que tem de criar negócios. O que sugiro é a criação de negócios que limpem, todos os dias, os activos tóxicos, com a taxa de juro a revelar a própria toxicidade", acrescentou.

O banqueiro disse ainda que este é o momento de agir, enquanto a crise está fresca, para que no futuro não seja necessário "voltar a ir a correr para os governos a pedir socorro, a pedir dinheiro e a dizer que se os governos não dão dinheiro tudo vai abaixo, o mundo todo vai abaixo".

"Se não acabarmos com tudo isso a crise voltará. Aos primeiros sinais de normalidade as pessoas vão esquecer-se do pesadelo. Acordam de manhã e tudo está bem, foi um pesadelo que durou um pouco mas a vida volta a ser bela. Esse é o perigo. Agora o tempo é de agir", apelou o prémio Nobel da Paz.

* Agência Lusa