4.10.08

Ministro sublinha que política de imigração não é acto de peneirar

Carlos Dias, in Jornal Público

Viabilizar o aeroporto de Beja, o regadio de Alqueva e o complexo de Sines implica criar 20 mil a 30 mil postos de trabalho que o Alentejo não consegue preencher


O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, disse ontem em Beja, durante a abertura da conferência A Imigração no Baixo Alentejo - perspectivar o futuro face aos novos desafios, que "a legislação portuguesa para a imigração é muito humanista e que devemos respeitar os direitos dos imigrantes, sabendo acolhê-los e integrá-los". E justificou, considerando que assiste a cada país "o direito a ter políticas de imigração que estejam de acordo com as suas necessidades", mas que a sua prática não deve ser encarada "como um acto de peneirar".

A este propósito, o ministro recordou uma frase de Sócrates (o filósofo) inscrita nas paredes de uma estação do metro em Lisboa "Não sou ateniense nem grego, mas cidadão do mundo" para realçar a dimensão universal de um fenómeno que está a colocar "tremendos" desafios à Europa comunitária. "Quando recebemos imigrantes recebemos seres humanos" realçou Rui Pereira, lembrando que hoje está em voga falar em "imigração escolhida".

O presidente da Câmara de Beja, Francisco Santos, citou uma frase de Fernando Pessoa: "Todo o cais é uma saudade de pedra" para retratar o que representou e representa para centenas de milhares de alentejanos a necessidade extrema de emigrar, realçando o paradoxo de "hoje sermos um cais de chegada e um cais de partida" reportando-se aos milhares que partem à procura de trabalho, provocando uma "sangria demográfica" na região baixo-alentejana.

Carlos Graça, director regional da Autoridade para as Condições de Trabalho, fez uma retrospectiva sobre o trabalho que estes serviços tem vindo a desenvolver desde o final dos anos 90 e diz que deu conta de uma "realidade perturbadora" quando fiscalizava a mão-de-obra de alguns sub-empreiteiros nas obras da Aldeia da Luz: "Um dia, quando identificávamos os trabalhadores ilegais para os expulsar do país, vi ao volante de uma carrinha um indivíduo com uma sorriso. Viemos a saber que se tratava de um engajador" de mão-de-obra imigrante. Desde então "passámos a perseguir e a controlar as redes de tráfico de mão-de-obra que trabalhava com meses de salários em atraso".

Os imigrantes no Alentejo rondarão os 20 mil, repartidos por quatro distritos, "a que teremos de acrescentar uns 25 por cento em situação ilegal" explicou Alberto Matos, delegado em Beja da organização Solidariedade Imigrante. O total rondará os 25 mil imigrantes, numa avaliação dinâmica que tem em conta a sua grande mobilidade e rotatividade. "Os imigrantes são, seguramente, mais de 90 por cento dos trabalhadores agrícolas", realça Alberto Matos.

Com os projectos do aeroporto de Beja, regadio de Alqueva e complexo de Sines, "será precisar de criar entre 20 a 30 mil postos de trabalho" que a região não tem condições para suprir referiu João Agostinho, director regional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. A resposta só pode vir da mão-de-obra imigrante, admite, alertando para os efeitos da sua deslocação massiva para a região, que "colocará problemas" do ponto de vista cultural e criminal.

Rui Pereira diz que a legislação portuguesa é humanista e que devemos respeitar, acolher e integrar os imigrantes.