17.10.08

Pobres, apesar de trabalharem

in Jornal de Notícias

O livro "Um olhar sobre a pobreza em Portugal - Vulnerabilidade e exclusão social no Portugal Contemporâneo" conclui que 46% dos portugueses passaram por uma situação de pobreza, entre 1995 e 2000. É um número chocante...

É, mas temos que ter em atenção a forma como, geralmente, se apresentam os dados sobre a pobreza em Portugal: normalmente são dados respeitantes a apenas um ano. O valor de 46% diz respeito a quem passou pela pobreza em algum momento ao longo de seis anos.

A grandeza do número deixa exposta a fragilidade da sociedade portuguesa face à pobreza.

Sim, mostra a vulnerabilidade da sociedade portuguesa. A pobreza é, muitas vezes, explicada através de perspectivas culpabilizantes, individualistas. No entanto, devemos estar conscientes de que esta problemática está enraizada na sociedade portuguesa. Se é verdade que o grupo de pessoas que viveu em situação de pobreza ao longo de todo o período de seis anos é relativamente reduzido (6,3%), é igualmente verdade que quase metade da população viveu em situação de pobreza em pelo menos um dos anos, mesmo que nos restantes não tenha sido considerada pobre.

E ao contrário do que muitas vezes se pensa, a pobreza não atinge só os desempregados...

É verdade que ter trabalho é um factor de protecção, enquanto que o desemprego é um factor de risco. Mas olhando para o conjunto das pessoas pobres, há uma fatia muito significativa (cerca de 40%) que, apesar de trabalhar, está numa situação de pobreza, para o que concorrem em grande medida os baixos salários.

Quais as medidas necessárias para acabar com esta realidade?

São precisas medidas de natureza económica, que têm a ver com o funcionamento do mercado de trabalho.

Isabel Baptista

co-autora de "Um olhar sobre a Pobreza"