6.10.08

Portugal e Espanha exigem que resposta à crise seja decidida pela totalidade da UE

Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas, in Jornal Público

Reuniões dos ministros das Finanças dos 15 países da zona euro e dos Vinte e Sete decorrem hoje e amanhã com o desafio de conseguir a unidade europeia que tem faltado


Portugal e Espanha criticaram ontem de forma velada a cimeira de sábado passado limitada aos quatro maiores países da União Europeia (UE), defendendo que as decisões relevantes sobre a crise financeira deverão ser tomadas a 27 e no âmbito de uma resposta europeia.

Fernando Teixeira dos Santos, ministro português das Finanças, reagiu ontem à cimeira com uma nota enviada à agência Lusa afirmando que as conclusões da França, Alemanha, Itália e Reino Unido "devem ser debatidas entre todos os Estados membros" da UE.

Na mesma linha, a vice-primeira-ministra espanhola, Maria Teresa Fernandez de la Vega, frisou que "os órgãos de decisão" da UE são as reuniões dos ministros das Finanças e as cimeiras de chefes de Estado e de Governo.

A oportunidade para este debate surgirá durante as reuniões mensais dos ministros das Finanças dos 15 países da zona euro e dos Vinte e Sete que decorrem hoje e amanhã no Luxemburgo, enquanto a próxima cimeira de líderes está programada para 15 e 16 de Outubro.

Pedro Solbes, ministro espanhol das Finanças, discordou por seu lado da principal conclusão da cimeira dos Quatro, segundo a qual a crise deve ser resolvida ao nível nacional em função da especificidade de cada país, embora de forma concertada a 27. "Sei que há instituições e sectores que sofrem mais que outros com os problemas de financiamento, mas não vejo uma solução nacional. [A solução] deve vir da Europa", afirmou em entrevista ontem publicada pelo jornal El Mundo.

O principal desafio das reuniões de hoje e amanhã será, precisamente, conseguir a unidade europeia que tem estado ausente desde que a crise se agravou.

A Irlanda, sobretudo, tem estado debaixo do fogo dos seus parceiros por ter decidido garantir a totalidade dos depósitos em seis grandes bancos nacionais, o que para os outros países constitui uma quebra da solidariedade europeia por incitar à fuga de capitais para o seu território.

Angela Merkel, chanceler alemã, foi uma das mais críticas desta medida em Paris, antes de se ver ontem obrigada a assumir o mesmo compromisso face aos seus cidadãos (ver caixa).

As principais decisões dos Quatro assentaram num "compromisso solene" de socorrer todos os bancos solventes com problemas de liquidez, a libertação imediata de uma facilidade de crédito de 31 mil milhões de euros que foi criada no Banco Europeu de Investimentos durante quatro anos, a promessa de revisão e melhoria das normas contabilísticas dos bancos e da regulação do sector financeiro e um "desenvolvimento coordenado das regras europeias" em matéria de garantias dos depósitos bancários.
Totalmente afastada está, por agora, a possibilidade de criação de um fundo europeu semelhante ao plano Paulson dos Estados Unidos com os seus 700 mil milhões de dólares para socorrer os bancos em dificuldades, sobretudo devido à oposição da Alemanha.

Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia que esteve igualmente em Paris, considerou que os Quatro fizeram "o máximo face a uma situação muito grave e muito séria que a Europa não criou mas de que sofre os efeitos". Segundo afirmou em entrevista a um jornal francês, a resposta europeia não pode ser igual à americana porque "os Estados Unido são um e mesmo país, e a Europa é constituída por 27". "Não podemos ter a mesma unidade que os americanos", nem "comparar as respostas dos dois lados do Atlântico", sublinhou, também porque "a situação é melhor na Europa que nos Estados Unidos".