Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas, in Jornal Público
As divisões entre os Vinte e Sete correm o risco de se agravar com a minicimeira convocada pelo Presidente francês, Nicolas Sarkozy para sábado, em Paris
Quanto maior a incerteza, maiores as divergências entre os países da União Europeia (UE) sobre as possíveis soluções para a crise: entre a criação de um fundo europeu de socorro aos bancos em dificuldades ou as garantias dos depósitos dos particulares, os Vinte e Sete não se entendem.
As divisões correm o risco de se agravar com a minicimeira convocada pelo Presidente francês, Nicolas Sarkozy, para sábado, em Paris, limitada aos chefes dos Governos dos quatro países europeus membros do G8 - França, Alemanha, Reino Unido e Itália, em conjunto com o primeiro-ministro do Luxemburgo e presidente do Eurogrupo (dos ministros das Finanças da zona euro), Jean-Claude Juncker, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, e o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso.
Oficialmente, o encontro destina-se a "preparar a contribuição dos membros europeus do G8 para os próximos encontros desta instância consagrados à crise financeira internacional", justificou Paris.
Ao contrário do que é hábito, e possivelmente devido à gravidade do momento, o encontro dos quatro não suscitou os habituais e sonoros protestos dos países excluídos sempre que os maiores se reúnem a sós para debater assuntos de interesse comum. A excepção partiu da Espanha, que, durante uma reunião dos embaixadores dos Vinte e Sete quase exclusivamente consagrada à crise, na quarta-feira, ironizou sobre os repetidos apelos lançados pela presidência francesa da UE à unidade europeia na gestão da crise.
Em privado, no entanto, diplomatas de alguns dos países mais pequenos apreciam pouco a discussão em formação limitada de temas de competência comunitária (como a supervisão bancária ou a simplificação das normas contabilísticas que Sarkozy quer levantar). Ou de questões de interesse comum, como é o caso da oportunidade de criar um fundo na Europa semelhante ao plano Paulson nos Estados Unidos, que ontem continuou a gerar desmentidos, mal-entendidos e correcções.
Não menos melindroso é o facto de a cimeira ter sido formalmente anunciada no site da presidência francesa da UE, apesar de só quatro países terem sido convidados.
O que é verdadeiramente "problemático" é que "se uma reunião com o peso dos quatro grandes da UE e dos presidentes de três importantes instituições comunitárias tiver resultados, os outros países terão grandes dificuldades em ter uma opinião diferente", criticou um diplomata de um pequeno país.
Oficialmente, a ideia de um fundo europeu de salvamento dos bancos em risco não está na agenda europeia. Isto é pelo menos o que afirma a França, que, ao longo dos últimos dois dias, negou em várias ocasiões e formatos qualquer intenção de o propor, como chegou a ser referido em Berlim com uma referência a um valor de 300 mil milhões de euros.
A Alemanha e o Reino Unido rejeitaram de imediato a sugestão, o mesmo acontecendo com os presidentes do BCE e do Eurogrupo. Berlim recusa passar "cheques em branco" aos bancos, enquanto Londres prefere "soluções nacionais" para uma crise que reconhece "europeia".
Paris deu sinais de que a ideia partiu da Holanda, o que o primeiro-ministro Jan Peter Balkenende negou, afirmando tratar-se de um mal-entendido. Tudo o que fez, explicou, foi sugerir a criação de um "plano" europeu - e não um fundo - em que os Estados poderiam constituir reservas financeiras nacionais para salvar os bancos. Se os Vinte e Sete se puserem de acordo sobre a injecção do equivalente a 3 por cento do respectivo PIB, "poderíamos chegar a 380 mil milhões de euros", calculou.
Uma outra divergência estalou entre o Reino Unido e a Irlanda a propósito do plano ontem aprovado por Dublin de garantia dos depósitos dos particulares de seis bancos, num valor superior a 400 mil milhões de euros.
Londres acusa Dublin de distorcer a concorrência e de incitar os depositantes no Reino Unido a transferir poupanças para a Irlanda, exigindo assim a anulação da medida, ou o mesmo tratamento para os seus bancos.
Berlim recusa passar "cheques em branco" aos bancos, enquanto Londres prefere "soluções nacionais".