14.11.08

Alemanha estreia entrada em recessão das grandes potências mundiais

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

A maior crise financeira desde 1929 está a colocar o mundo em recessão. Em 2009, EUA, Zona Euro e Japão vão ter crescimentos negativos, diz a OCDE


A Alemanha tornou-se ontem na primeira grande potência mundial a entrar oficialmente em recessão técnica, um destino a que não deverá escapar, nos próximos meses, uma grande parte dos países mais ricos do planeta.

Ontem, o Gabinete Federal de Estatísticas da Alemanha anunciou que, no terceiro trimestre deste ano, o PIB registou um decréscimo de 0,5 por cento face ao período imediatamente anterior. No segundo trimestre, a economia germânica já tinha recuado 0,4 por cento, o que significa que está agora cumprida a condição habitualmente utilizada para declarar uma recessão técnica: dois trimestres consecutivos de redução real do produto.

A entrada em recessão da maior economia europeia não constituiu uma surpresa. A maior parte dos analistas já estava a contar com um recuo do PIB. No entanto, a quebra de 0,5 por cento foi mais forte do que o previsto e veio acentuar as expectativas de uma entrada muito negativa no próximo ano. À medida que as exportações são afectadas pelo abrandamento global, os bancos limitam o acesso ao crédito e o pessimismo instala-se entre os consumidores e as empresas.

Na Alemanha, a última recessão técnica tinha-se registado em 1996. Agora é possível que este período se prolongue por mais algum tempo, esperando-se mesmo uma variação negativa do PIB anual para o total de 2009.

A Alemanha não deverá ficar por muito tempo isolada no grupo das maiores economias do planeta oficialmente em situação de recessão técnica. Já hoje, o Eurostat - em conjunto com vários institutos nacionais de estatísticas europeus - apresenta os primeiros dados relativos ao PIB do terceiro trimestre de 2008 no resto da economia europeia. E a estimativa rápida de crescimento, prevêem os analistas, deverá também ser negativa para a total da Zona Euro, depois de no segundo trimestre ter apresentado o primeiro recuo no produto (-0,2 por cento) pelo menos desde que o euro foi criado.

Em particular, países como a França, Itália e Irlanda estão também em risco de ver declarada uma recessão já no terceiro trimestre, enquanto economias como a portuguesa (ver texto ao lado) ou a espanhola correm o risco de iniciar agora um período de retracção.

Ano de 2009 negativo


Com a entrada ou não em recessão técnica - que depende muitas vezes de efeitos pontuais e particulares de cada país - o que parece cada vez mais certo é a ocorrência, a partir do final de 2008 e durante o ano de 2009, de um período longo de contracção das economias mais ricas do Mundo.

Ontem, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) viu-se obrigada a corrigir em baixa as suas previsões. Para os 30 países que compõem esta organização, antecipa-se agora uma redução do PIB em 2009 de 0,3 por cento, quando em Junho se esperava um crescimento de 1,7 por cento.

EUA, Zona Euro e Japão, onde os bancos centrais estão a descer taxas e os Governos a lançar planos de estímulo económico, não escapam à onda negativa que está a varrer a economia mundial. A economia norte-americana deverá ter a travagem mais forte, de 0,9 por cento, enquanto a Zona Euro poderá registar um recuo de 0,5 por cento. Não foram divulgadas estimativas para mais países, como Portugal.

Estas projecções da OCDE estão próximas das que foram apresentadas na semana passada pelo FMI. E já são poucas as entidades que não admitem uma redução do PIB na Zona Euro no próximo ano. A Comissão Europeia aposta num crescimento de 0,1 por cento, enquanto o BCE está a preparar novas projecções. Ontem, em Frankfurt, Vítor Constâncio disse que "a recessão ainda não está confirmada", dizendo ser preferível esperar pelas previsões que serão divulgadas em Dezembro pelo banco.

Mas, para além das previsões, os indicadores que vão sendo divulgados confirmam o ambiente sombrio que se vive na economia mundial. Nos EUA, os dados semanais de novos pedidos de apoio ao desemprego atingiu, no período terminado a 1 de Novembro, o valor mais elevado dos últimos seis anos. Com várias empresas a lançarem planos de redução de pessoal, a expectativa só pode ser para uma evolução ainda mais negativa nos próximos meses.

E se as previsões de crescimento negativo estão, por agora, reservadas aos países mais desenvolvidos, a verdade é que as economias emergentes vão dando mais sinais de abrandamento. Na China, onde o Governo apresentou um plano de estímulo económico no valor de 586 mil milhões de dólares, o ritmo de crescimento da produção industrial caiu em Outubro para 8,2 por cento, o valor mais baixo desde 2001. A indústria chinesa, dependente das exportações, está cada vez mais pessimista.