in Jornal Público
A chanceler falou na maior sinagoga de Berlim no aniversário da noite que marcou o início da violência contra os judeus na Alemanha nazi
A chanceler Angela Merkel pediu ontem aos alemães para lutarem "com determinação contra o racismo e em particular o anti-semitismo", horas antes do aniversário da noite de violência que é considerada o início do Holocausto.
"Sabemos que o indizível começou nesse dia e desembocou no Holocausto", disse a dirigente na sua mensagem semanal difundida na Internet. Devemos recordar "não apenas por dever às vítimas, mas também para que isto não se repita", acrescentou.
Na noite de 9 para 10 de Novembro de 1938 mais de 200 sinagogas, muitas lojas e casas de judeus foram destruídas por paramilitares nazis e apoiantes, enquanto a polícia e os bombeiros assistiam. Mais de 90 judeus foram mortos e 30 mil foram presos e depois enviados para campos de concentração.
"A indiferença é o primeiro passo para pôr em risco valores essenciais", afirmou depois Merkel numa cerimónia com o Conselho Central dos Judeus na sinagoga de Rykestrasse, a maior de Berlim e uma das raras da Alemanha a escapar à destruição da "Noite de Cristal".
"Não se pode nunca voltar a dar uma oportunidade à xenofobia, ao racismo e ao anti-semitismo na Europa", disse a chanceler. "Não houve nenhuma tempestade de protestos contra os nazis, houve silêncio, encolher de ombros e pessoas a olhar para o lado - desde cidadãos individuais a grande parte da Igreja", disse ainda.
Os 70 anos da "Noite de Cristal" completam-se numa altura de preocupação com algum crescimento da extrema-direita na Alemanha, notava ontem a BBC. "Não podemos ser indiferentes quando cemitérios judeus são profanados e há rabis insultados nas ruas", sublinhou Merkel.
Protesto pacífico
O secretário-geral do Conselho dos Judeus da Alemanha, Stephan Kramer, aproveitou a data para pedir que o período nazi seja mais bem explicado aos jovens, para que estes sejam avisados "contra os perigos do futuro, de um novo anti-semitismo e da extrema-direita".
Sábado, cerca de 600 pessoas marcharam em Fulda, uma cidade no centro do país, em protesto contra outra manifestação, que acontecia em simultâneo, de membros do Partido Nacional Democrático. Os manifestantes empunharam cartazes em que diziam que Fulda é "zona livre de nazis" e agitaram bandeiras israelitas. As duas manifestações foram pacíficas e a polícia manteve-as afastadas.