José Bento Amaro, in Jornal Público
Operação que passa por Portugal abrange seis países. Já foram detidas 32 pessoas, suspeitas de imigração ilegal, lenocínio e tráfico de pessoas para fins sexuais
Uma vasta operação policial a decorrer em seis países europeus, entre eles Portugal, já permitiu deter 32 pessoas e identificar mais 70. Trata-se de uma rede organizada de tráfico de pessoas para fins sexuais e que, de acordo com a polícia, será responsável pela introdução ilegal na União Europeia (UE) de pelo menos 3500 mulheres ucranianas.
Em Portugal, a Polícia Judiciária (PJ) e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), na sequência desta operação, actuaram em conjunto na madrugada de quinta-feira, num estabelecimento nocturno nas imediações de Mação. Foram detidas cinco pessoas, com idades entre os 30 e os 50 anos, sobre quem recaem suspeitas da prática de crimes de auxílio à imigração ilegal, lenocínio e tráfico de pessoas para fins sexuais.
Este grupo de detidos é suspeito de integrar um lote bem mais alargado e que actua em toda a UE. Em Espanha, segundo noticiou ontem o El País, terão sido presas 14 pessoas e em Itália uma outra. A rede estende-se, no entanto, também pela Polónia, Hungria e Eslováquia.
A forma de actuação desta rede, dizem os serviços de imigração espanhóis, consiste em recrutar mulheres através de anúncios em toda a imprensa escrita ucraniana.
A troco de quantias que oscilam entre 2500 e 3000 euros, as mulheres são convencidas de que terão autorizações de trabalho e residência quando, de facto, o que lhes é entregue são apenas vistos de curta duração (entre cinco a dez dias) para permanência no Espaço Schengen.
Viajando em carrinhas e pequenos autocarros, mas também dissimuladas entre mercadorias transportadas em camiões, as mulheres são orientadas para dizerem, caso sejam interpeladas, que são turistas.
As mulheres acabam por ser espalhadas por diversos países da Europa Ocidental, colocadas em estabelecimentos nocturnos. A única hipótese que lhes é dada para amealharem dinheiro para poderem regressar ao seu país é a de se prostituírem.
Essa é, no entanto, uma tarefa árdua, uma vez que a maior parte do dinheiro que ganham acaba por lhes ser descontada, alegadamente para pagamento da alimentação e hospedagem. Segundo um inspector da PJ contactado pelo PÚBLICO, há também casos em que as mulheres se prostituem com receio de serem concretizadas as ameaças de morte dirigidas aos seus familiares que permanecem na Ucrânia.
Os vistos, segundo referem as autoridades espanholas, estariam a ser expedidos através de delegações diplomáticas da Polónia, Hungria, Eslováquia e República Checa.
Os condutores das viaturas que transportam as mulheres são, regra geral, ucranianos que possuem autorização de residência em Portugal, Espanha, Itália e França.
3500
mulheres ucranianas terão sido introduzidas no espaço da União Europeia por esta rede de tráfico de pessoas para exploração sexual, recrutadas através de anúncios