4.11.08

Portugal e zona euro acabam ano em recessão e estagnam em 2009

Isabel Arriaga e Cunha e Sérgio Aníbal, em Bruxelas, in Jornal Público

Nos dois últimos trimestres de 2008 a economia nacional vai recuar, colocando Portugal em recessão técnica pela sexta vez nos últimos 30 anos

O agravamento da crise financeira atirou a zona euro para a primeira recessão técnica da sua história, que não poupará Portugal nem as cinco maiores economias europeias, os principais mercados para as exportações nacionais.

De acordo com as previsões semestrais ontem publicadas pela Comissão Europeia, a economia portuguesa crescerá este ano apenas 0,5 por cento, uma quebra abrupta face ao resultado de 1,9 por cento de 2007. Esta previsão inclui um crescimento negativo de 0,3 por cento no terceiro trimestre deste ano e de 0,1 no quarto, o que equivale à definição de uma recessão técnica (dois trimestres consecutivos de contracção do PIB). Esta será a sexta recessão técnica registada em Portugal nos últimos 30 anos.

Para os próximos dois anos, Bruxelas prevê uma situação de quase estagnação da economia nacional, com um crescimento de 0,1 por cento em 2009 e 0,7 por cento em 2010, novamente abaixo da média europeia. Previsões que são muito inferiores às do Governo, que, na apresentação do Orçamento para 2009, a 14 de Outubro, apontava para um crescimento de 0,8 por cento em 2008 e 0,6 em 2009.

Emanuel dos Santos, secretário de Estado do Orçamento, desvalorizou as previsões da Comissão, considerando que, dada a incerteza "muito maior que do que nos anos anteriores", "é muito difícil a qualquer analista, por mais que se esforce, apontar para previsões que tenham um mínimo de probabilidade de acontecer". Segundo afirmou à entrada da reunião mensal dos ministros das Finanças da zona euro, está nas mãos dos governos evitar que as previsões se materializem: "É claro que não fazendo nada, se os governos cruzarem os braços, tecnicamente projectando tendências, poderemos chegar a esses resultados técnicos. Mas os governos estão a tomar medidas e o nosso Governo acabou de tomar um pacote de medidas muito importante para evitar que caiamos numa situação de estagnação económica."

Exportações afundam-se

Dificilmente, no entanto, Portugal conseguirá só por si escapar à tendência geral da zona euro - que enfrenta a pior crise desde a sua criação, em 1999 - e das maiores economias europeias - Espanha, França, Alemanha, Itália e, fora do euro, o Reino Unido - que constituem os principais mercados de Portugal. Sintomaticamente, aliás, as exportações portuguesas progredirão apenas 1,1 por cento em 2009, o pior valor desde 1993.

Para este ano, Bruxelas prevê um crescimento de 1,2 por cento na zona euro e de 1,4 por cento para o conjunto da UE. Estas previsões representam menos de metade dos valores de 2007 (2,7 e 2,9 por cento, respectivamente). Do mesmo modo, tanto a zona euro como a UE estarão este ano em recessão técnica, com um crescimento negativo de 0,1 por cento durante os dois últimos trimestre, e estagnarão em 2009. "O horizonte económico deteriorou-se agora de maneira muito significativa, numa altura em que a economia da UE é afectada em pleno pela crise financeira que se agravou durante o Outono e pesa sobre a confiança das empresas e dos consumidores", afirmou Joaquin Almunia, comissário europeu responsável pela economia e finanças, no momento da apresentação das previsões.

O investimento, "o principal motor da última retoma económica", sofreu uma "queda abrupta" em resultado de "uma procura em baixa, e uma diminuição nítida da confiança dos investidores, de condições de financiamento mais estritas e de uma redução da disponibilidade do crédito", sublinha a Comissão.

Almunia acredita, no entanto, que "uma retoma gradual" da economia "poderá ter início na segunda metade de 2009", embora frisando que se trata de "um cenário prudente" e sujeito a uma série de riscos negativos.

Madrid e Londres recuam

Entre as maiores economias, Espanha e Reino Unido estarão em recessão durante todo o ano de 2009, com um crescimento negativo de 0,2 e um por cento, respectivamente. Já a França, Alemanha e Itália terão um crescimento zero.

A pior situação entre os países da eurolândia é a da Irlanda, que, depois de uma década quase ininterrupta de crescimento económico acima dos cinco por cento, sofrerá uma contracção brutal do PIB de 1,6 por cento este ano e de 0,9 no próximo. Fora do euro, a Estónia e a Letónia estarão numa posição ainda pior com uma contracção do PIB tanto em 2008 como em 2009, em contraste gritante com as taxas de crescimento superiores a 10 por cento que ambas registaram em 2006.

Em resultado da deterioração da situação económica, Bruxelas prevê um forte agravamento do desemprego e dos défices orçamentais (ver textos nestas páginas).
O único indicador com uma evolução positiva será o da inflação, que, depois de ter atingido um pico de 4 por cento em Julho passado, deverá fechar o ano ao nível de 3,5 por cento na zona euro e baixar para 2,1 por cento em 2010 (de 3,9 para 2,2 por cento no conjunto da UE).