14.11.08

Portugueses têm o pior acesso à saúde dos Quinze

Carla Aguiar, in Diário de Notícias

Inquérito. Sistema português em 26.º lugar numa lista de 31 países

Acesso rápido ao médico de família e tempo de espera de tratamento são pontos fracos


O sistema de saúde português tem "graves problemas de acesso" dos utentes aos serviços, revela o índice europeu dos consumidores de serviços de saúde em 2008 (Euro Heatlh Consumer Index), ontem divulgado em Bruxelas. Essa é, de resto, a principal razão pela qual Portugal surge em 26º lugar, numa lista de 31 países, que avalia o funcionamento do sistema de saúde, - só à frente de países como a Roménia, Bulgária, Croácia, Macedónia e Letónia.

"Portugal ainda não conseguiu resolver o seu problema de acesso e de tempo de espera de tratamento, o que tem graves implicações para os pacientes e a capacidade do sistema em prestar cuidados", afirmou o presidente do Health Consumer Powerhouse, Johan Hjertqvist. O mesmo responsável recomenda a Portugal uma aposta na transparência, pois " a transparência asseguraria que os pacientes pudessem fazer escolhas com conhecimento de causa para obterem os melhores cuidados possíveis".

Em causa estão seis categorias nas quais Portugal fica mal clasificado na comparação com outros estados-membros, como seja o tempo de espera para tratamento, que abrange o acesso a médico de família no próprio dia, a facilidade de aceder a um especialista ou marcar operações não graves em menos de 90 dias. Nesta categoria - em que apenas a terapia ao cancro em menos de 21 dias é destacada como razoável - Portugal obtém apenas 80 pontos, abaixo dos 120 pontos da Lituânia ou dos 187 apurados pela Alemanha ou pelo Luxemburgo.

Mas o índice mede ainda conceitos como a transparência, os direitos dos doentes à informação, os resultados no combate às doenças, a diversidade dos serviços prestados e o acesso electrónico aos serviços e informação sobre saúde. Este indicador foi incluído este ano pela primeira vez no índice, o que, segundo os organizadores do inquérito, pode ter contribuído para baixar a posição portuguesa, uma vez que, neste capítulo, pontua ao nível dos países menos desenvolvidos da UE. De facto, Portugal caiu do 19.º lugar em 2007 para os 26.º lugar este ano, mas em 2006 já havia descido de posição.

O Ministério da Saúde reagiu ontem aos resultados deste inquérito, sublinhando a "redução consistente do tempo de espera" nos hospitais. "Os dados de Setembro do Sistema Integrado de Gestão dos Inscritos para Cirurgia revelam que entre 31 de Dezembro de 2005 e Setembro de 2008, a mediana do tempo de espera desceu de 8,6 para 4,3 meses", refere o Ministério. No mesmo período, os doentes a aguardar cirurgia desceram de 225 mil para 183 mil.