7.11.08

Recessão

in Jornal Público

Portugal não deverá escapar à recessão da economia mundial prevista para 2009


Ainda nem sequer passou um mês desde as últimas previsões, mas ontem o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu em forte baixa as suas projecções para a economia mundial. O cenário projectado no início do mês passado era negro. Ontem ficou bastante mais negro. Em 2009, o mundo estará em recessão; a zona euro, os Estados Unidos, o Japão e o Reino Unido vão ver a sua economia recuar; e Portugal só muito dificilmente não acompanhará os seus parceiros para a recessão.

A actualização das previsões que o FMI tinha feito a 8 de Outubro não deixam grande margem para dúvidas. A actual crise económica ameaça afundar a economia mundial e as economias avançadas irão registar a sua primeira recessão desde o pós-guerra, salienta a entidade sedeada em Washington.

A actualização das previsões não contemplam Portugal, mas no relatório de Outubro, o FMI apontava para um crescimento de 0,6 por cento em 2008 e de 0,1 por cento no próximo ano. Previsões que tinham como base um crescimento da Zona Euro, para onde Portugal envia perto de 80 por cento das suas exportações, de 1,3 por cento este ano e de 0,2 por cento no próximo. Acontece que, ontem, o Fundo veio dizer que, afinal, a Zona Euro apenas irá crescer 1,2 por cento este ano e que irá recuar 0,5 por cento em 2009. Uma travagem que se irá reflectir em Portugal, pressionando ainda mais o crescimento previsto.

Em declarações por escrito, Jorg Decressin, director da divisão de estudos do FMI, salientou que "a crise financeira tem-se revelado mais virulento do que o esperado. Vemos famílias e empresas em toda a parte a reduzirem as suas perspectivas muito mais rapidamente do que tínhamos previsto. Como resultado, o comércio global já está a diminuir rapidamente". Assim, prossegue, "a redução da procura mundial e do comércio, juntamente com os preços deprimidos e as condições mais apertadas dos bancos irão reduzir notavelmente a actividade na área do euro, incluindo Portugal, mais ainda do que esperávamos no momento do World Economic Outlook de Outubro". Ou seja, o crescimento em Portugal será inferior aos 0,6 por cento previstos para 2008 e aos 0,1 por cento previstos para o próximo ano, deixando a economia portuguesa em 2009 estagnada ou em recessão.

Mas o cenário negro pintado ontem pelo FMI estende-se aos vários pontos do mundo. Em Itália, por exemplo, a recessão deverá sentir-se já este ano com a economia a recuar 0,2 por cento. Em 2009 o recuo deverá atingir 0,6 por cento. Será, no entanto, o Reino Unido a sentir mais ferozmente a recessão. Este ano ainda deverá crescer 0,8 por cento, mas em 2009 vai recuar 1,3 por cento, o valor mais negativo de todas as economias avançadas. Espanha também escapa à recessão este ano, segundo o FMI, mas em 2009 irá recuar 0,7 por cento.

Apesar deste cenário e de ser prática do próprio FMI dizer que a economia mundial está em recessão com crescimentos abaixo dos três por cento, ontem, na conferência de imprensa para apresentar esta actualizações, o conselheiro económico do FMI, Olivier Blanchard, recusou-se a utilizar a expressão recessão, mesmo com uma previsão de crescimento de 2,2 por cento para a economia mundial.

Estados Unidos
A economia norte-americana vai crescer 1,4 por cento em 2008, mas no próximo ano entra em recessão e recua 0,3 por cento.

Zona Euro
Com um crescimento previsto de 1,2 por cento para 2008, a economia do euro não resistirá e vai recuar 0,5 por cento em 2009.

Alemanha
Depois de crescer 2,5 por cento em 2007, a tendência é de forte descida: 1,7 por cento em 2008 e recuo de 0,8 por cento no próximo ano.

Japão
Com um crescimento de 0,5 por cento previsto para 2008, o Japão também não escapará à recessão no próximo ano, com a economia a recuar 0,2 por cento.

França
A economia francesa deverá crescer 0,8 por cento este ano e recuar 0,5 no próximo.